Depois da vitória no Festival da Canção e da posterior ida à Eurovisão, MARO presenteia-nos com hortelã. O álbum, lançado este mês de abril, permite a redescoberta de uma cantora versátil e cheia de talento.
A vitória de MARO no Festival da Canção, e a sua incrível prestação na Eurovisão, são a prova do encanto generalizado por esta artista. A verdade é que a sua voz doce e o seu timbre carregado de rouquidão são incapazes de deixar alguém indiferente. O álbum hortelã, é a mais recente prova da artista íntegra que MARO é.
Assim, ao longo dos primeiros meses de 2023, a artista tem tornado públicas algumas das músicas que compõem o novo disco, sendo que este foi lançado na sua integridade no presente mês de abril. O disco apresenta 10 faixas, oito das quais em português, sendo, na sua totalidade, uma viagem intimista e sincera aos mais profundos sentimentos da cantora. Recorrendo às palavras da própria, hortelã é “um álbum íntimo, sincero e gravado com a intenção de deixar para trás o que foi e começar um novo capítulo”.
“Oxalá” é a primeira faixa do novo projeto, a artista descreve-a como a sensação de “saber que provavelmente não vai dar certo e mesmo assim escolher e ver se dá”. De facto, no single esta sugere “Sei que o amanhã pode não ser, pois vivamos agora”, há, por isso, uma clara urgência em viver em consonância com presente. A ideia de ansiar o futuro é negada, para que a leveza de “viver o agora” ganhe mais peso. Adicionalmente, a melodia acústica particularmente calma e serena intensifica essa mesma leveza, acentuando a descontração com que a vida deve ser encarada. Ainda sobre o primeiro single, a artista referiu em comunicado que a escolha de “Oxalá” para ser a primeira faixa recai, sobretudo, no facto da mensagem transmitida coadunar com a filosofia de vida posta em prática por si: “tentar ver o lado positivo das coisas e ir vivendo sem expectativas nem pressão”.
“Ouvi dizer”, apresenta-se em quarto lugar no novo álbum, retratando minuciosamente a ilusão constante que assombra as nossas vivências. Carregando uma certa desilusão na voz, MARO transmite a sensação de que muitas vezes nos deixamos enganar pela expectativa de uma mudança, no entanto essa expectativa nem sempre é certeira “Ouvi dizer que a noite tudo lava /Fiquei p’ra ver mas eu cá não vi nada”. A verdade é que a espera constante por algo que nos é desconhecido acaba por ser bastante frustrante, talvez por isso, apreciar o presente e encarar a dádiva do agora seja uma decisão mais acertada. A nível musical, “ouvi dizer” apresenta-se, por comparação com as faixas anteriores, melodicamente mais leve, revelando um refrão bastante cativante.
Analisando a sexta faixa do álbum intitulada “juro que vi flores”, a artista partilha voz com Sílvia Perez Cruz num single revelador que traz consigo um pouco do Brasil. É nos então contada a história de um amor não correspondido, de um amor verdadeiro, que se revelou fugaz por coincidir fatalmente com uma altura indesejada, é o tal “amor certo, na hora errada”. Num tom intimista, a artista confessa “E sei que é lindo /E vale infinito mas/ Tempo errado”. Exaustivamente, a artista não fraqueja ao enaltecer a necessidade de viver os momentos no seu tempo, demostrando a ineficácia de permanecer exaltado por querer o que não se pode ter.
No mesmo registo sentimental, “something ´bout tomorrow” (oitava faixa) retrata o “amanhã” como sendo símbolo de procrastinação e de adiamento, a artista acaba mesmo por concluir que a resposta para todos os nossos problemas se centra no agora, “We’re craving for tomorrow/ When all we get to do is in today”. Já a faixa número dez, “hortelã” fecha o disco, a artista justifica-o: “assim o escolhi porque é, provavelmente, a canção mais bonita que já escrevi sobre o amor verdadeiro, incondicional.
Achei perfeito ser com essa mensagem que fecho um ciclo que foi difícil para começar uma nova etapa, um recomeço”. A música é, de facto, apaixonante. Por outro lado, o acréscimo da letra em concordância com as melodias doces e os ritmos serenos, resumem toda a paixão que emana deste novo projeto.
Apesar da escolha arriscada em misturar músicas em português com outras em inglês, hortelã é, definitivamente, um álbum que transborda sinceridade, sendo capaz de evidenciar um lado mais sentimentalista e intimista de MARO. Para além disso, o facto deste se ter realizado somente com o auxílio de vozes e guitarras imprime-lhe um caráter invulgar e cativante.