Manifestação procura alcançar maior estabilidade e garantias contratuais.
A cidade do Porto foi, na passada quinta-feira, palco de protestos por parte de uma iniciativa da Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) que juntou quase uma centena de investigadores. Perto de uma centena de investigadores com bolsa ou vínculos precários exigiu “condições de trabalho e de vida dignas” num protesto junto ao Polo Universitário da Asprela, no Porto. A iniciativa da Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) contou com pessoas do Porto e de instituições do Minho que sentem “injustiça” e “angústia” face às condições atuais.
A reivindicação teve o apoio de cartazes com frases como “Somos Universidade. Precários para sempre?” ou “Bolsas de Investigação = Liberdade de Exploração”. Os manifestantes pediram também contratos na Ciência e uma maior carreira na investigação, referindo que os problemas em causa “não são de hoje e se arrastam há anos”.
O dirigente da ABIC, João Rodrigues, realçou em declarações à Lusa que a revogação do Estatuto de Bolseiro de Investigação deve ser o principal foco, para que “todas as bolsas passem a contratos de trabalho com todos os direitos laborais inerentes”. João Rodrigues pede, desde logo, o direito aos subsídios de férias e de Natal e exigências de direitos a nível de doença ou reforma.
A abertura de concursos dos investigadores para objetivo de carreira foi também exigida dada a pouca garantia de integração no ramo profissional. O dirigente lamenta o facto de que “após o término da bolsa, […] os investigadores ficam desempregados e têm de depender das famílias e dos amigos” como é o caso de Ana Marques, contratada pela Universidade Católica do Porto. Ana termina o vínculo no final do próximo ano e refere que é “da altura em que foi investido muito dinheiro em Ciência”, mas que agora interessa “termos muitos doutorados para termos números para mostrar lá fora”. Critica esta política, defendendo que “não somos números, somos pessoas”.
Com dois filhos, de 15 e oito anos, Ana Marques passou 16 anos da sua vida dependente de bolsas sucessivas e teve uma pausa de meio ano na qual esteve desempregada. É esta a realidade de muitos investigadores e a ABIC apela por uma “atualização do valor das bolsas enquanto estas não forem substituídas por contratos de trabalho e valorização dos salários dos investigadores”. A presidente da associação, Bárbara Carvalho, realçou ainda o dia 21 de abril onde será realizada uma petição pelo “fim das taxas de entrega da tese de doutoramento”.