Vários artistas nacionais e internacionais atuaram durante a tarde e noite na cidade berço.
No passado sábado, 15 de abril, terminou mais uma edição do Westway LAB. O festival, que encerra o ciclo de concertos, conferências e residências artísticas, fechou a noite no CCVF com Criatura, Nacho Vegas, Rita Vian, La Furia e Catarina Munhá.
O último dia de Westway LAB começou cedo, ao início da tarde, com concertos de entrada livre a partir das 15h30 em vários locais da cidade. Ezpalak, Cave Story, Ledher Blue, Isa Leen, EVAYA, X IT e Yann Cleary dividiram-se entre os palcos do Convívio, Oub’Lá, Ramada 1930 e São Mamede CAE. À noite, o primeiro a atuar foi Nacho Vegas, no Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF). O músico asturiano, com uma presença muito tranquila e tímida em palco, encantou a plateia quase cheia e ainda gerou risos em alguns momentos, nomeadamente com o verso “tenemos una única misión: ¡matar fascistas!”. Já no final, brincou que a última música seria mais alegre que as anteriores, “sobre algumas tentativas de suicídio”.
O segundo espetáculo da noite foi no Café Concerto, tal como no dia anterior. Com a entrada anunciada pelo “grito de guerra” nos bastidores, La Furia subiu ao palco onde já se encontrava a DJ e onde mais tarde se juntaram duas dançarinas. A atitude e coreografia pujantes davam força às letras de protesto, maioritariamente, sobre empoderamento feminino e a faixa que cobria a mesa da DJ deixava bem clara a mensagem: duas mãos femininas a libertar-se de algemas. Alternando entre o espanhol e o inglês, a rapper ia explicando os temas e deixando mensagens de luta às mulheres. Admiravelmente incansáveis, La Furia e as dançarinas acabaram o concerto na plateia, a dançar e abraçar o público, após um espetáculo de música, dança e ativismo.
O próximo nome do cartaz a subir ao palco foi Rita Vian, na Box do CCVF, que enfrentou uma plateia bastante cheia, acompanhada pelo músico e artista visual João Pimenta Gomes. A presença discreta em palco criou um ambiente de intimidade com o público, que cantava ao som de temas como “Sereia” e “Tudo Vira”, entre outros. Mais tarde, e ajoelhada no chão, Rita Vian interpretou um tema que os seus avós costumavam cantar em dueto, num momento evidente da veia tradicional que reside no trabalho da artista. Numa mudança rápida de energia, a despedida foi feita sobre o tremer do chão com os graves da música potente de Rita Vian.
Voltando a descer as escadas até ao Café Concerto, encontramos tudo pronto para começar o concerto de Catarina Munhá, que agradeceu ao público pelo calor, dizendo que, no Norte, “a temperatura interior sobe”. Partilhando o palco com José Blanco, no violoncelo, e Daniel Costa, em “tipo sete instrumentos”, a cantora interpretou temas de Animal de Domesticação (2019) e do próximo EP, que sairá este ano. Começando no ukelele, Catarina Munhá passou também pelo teclado, “para desenjoar”, enquanto cantava para um público que ia balançando suavemente e cantando baixinho.
Antes do último concerto do festival, e tal como na noite anterior, já o chão da Box do CCVF acolhia os mais ansiosos para ver Criatura. Olhando para o palco com dez músicos, podia adivinhar-se a dimensão daquele que seria um dos melhores concertos do festival – com argumentos muito fortes para lutar pelo primeiro lugar. Depois de “Anunciação”, veio a explosiva “Bem Bonda”, que levou imensos braços ao ar, com imensa gente a cantar e a tirar os pés do chão. O imparável e incansável Gil Dionísio, um dos vocalistas, correu, saltou, cantou, dançou e pediu ao público que desse cada vez mais, enquanto o suor lhe pingava do rosto. O outro vocalista, Edgar Valente, projetava a voz com toda a força, quer segurasse num adufe, num cajado ou estivesse sentado no teclado.
O público, num ambiente de autêntica romaria e erupção enérgica, acompanhava todas as músicas a cantar e dançar como se não houvesse amanhã – bem, é verdade que era a última noite de festival. O complexo tricotado sonoro composto por todos em palco, ora calmo, ora efusivo, era o tapete para as palavras de ordem de ambos os vocalistas, numa manifestação musical abertamente política. No final, acabaram por tocar mais uma música do que tinham planeado e prolongaram o entusiasmo do público por mais alguns minutos. Assim, terminou a edição deste ano do Westway LAB.