Portugal é o país da União Europeia onde os jovens saem mais tarde de casa dos pais. A média fixa-se nos 33,6 anos. A repercussão da guerra ou os efeitos pós pandemia não são fatores meramente justificativos, mas contribuíram para atrasar os planos dos jovens portugueses. Com o acentuar da inflação, este grupo etário vê o seu futuro incerto, sem condições para largar a asa dos pais.

Contrariamente à Suécia, em que a média ronda os 19 anos, em Portugal os jovens não se conseguem emancipar e encontrar o seu próprio espaço. As gerações mais novas têm dificuldades, particularmente económicas, mesmo já estando inseridos no mercado de trabalho. Os salários são precários, os contratos instáveis, o preço dos alimentos dispararam e o arrendamento ou compra de habitação é um cenário cada vez mais impossível. Portugal foi o país da zona euro onde os preços mais subiram durante o mês de março.

Na última semana, a DECO PROTESTE revelou que há cada vez mais jovens obrigados a entregar casa ao banco. A organização afirma que os pedidos ajuda têm aumentado, pois é cada vez mais difícil suportar o esforço financeiro das prestações. O preço das habitações aumentou 38% desde 2019 e não se adequa ao poder de compra dos portugueses, em que um em cada três recebe menos de 950 euros por mês. O emprego é instável e não é suficiente para cobrir todas as despesas. Também o preço de construção de casas cresceu de forma exponencial, com a subida do valor das matérias primas.

Este é um problema real, que não afeta só a camada mais jovem. Porventura, se fosse estipulada uma lei que permitisse aos jovens ficar isentos de contribuições e impostos, a autonomia e independência futura seria maior. Os adolescentes que fazem um percurso escolar de sucesso, são os mesmos que se vêm encurralados e sem soluções financeiras que concedam a própria independência. Com as políticas em vigor e o crescimento exagerado no mercado, os tempos não se adivinham melhores.

A Geração Millennials e a Geração Z  podem vir a ser o grupo mais afetado pelas vagas sucessivas de crise, em grande parte causada pelos efeitos pandémicos e as guerras no mundo. São as camadas mais jovens que já estão inseridos no mercado de trabalho, ou a começar a dar os primeiros passos. Sem ajuda financeira e sustento dos pais, para muitos, sair de casa em breve é uma questão que nem é ponderada.

Também o estado da saúde mental assume um papel preponderante na decisão de sair de casa. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico elaborou um perfil da saúde dos jovens em Portugal, no ano de 2021. As conclusões mostram que os jovens, entre os 18 e 29 anos, apresentam taxas de sofrimento psicológico “moderado a grave”, resultados que superam bastante os adultos. O relatório destaca, entre as razões, a elevada insegurança face ao emprego e a perda de apoios sociais de arrendamento.

Ser jovem em 2023 é uma realidade obscura. As incertezas face ao futuro e a inflação não deixam a camada mais jovem sonhar. A maioria deseja encontrar casa, mas não consegue. Os planos tiveram de ficar para trás, guardados numa gaveta à espera que melhores dias cheguem. Enquanto a média da União Europeia ronda os 26 anos, em Portugal, a média de emancipação é bastante mais tardia. Se este cenário prevalecer, a natalidade vai sofrer um acréscimo ainda mais acentuado. Como vão os jovens pensar no futuro se nem casa têm para construir a própria família?