Linda Martini, B Fachada, Ana Lua Caiano, Redoma e AZAR AZAR deram música ao festival vimaranense.

Na passada sexta-feira, 14 de abril, o Centro Cultural Vila Flor recebeu a 10ª edição do Westway LAB, em Guimarães. Explorando diferentes géneros musicais, o festival deu palco a vários artistas portugueses.

A entrada para o Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF), que era suposto ter acontecido ao som do gongo, foi feita a conta gotas. Ainda assim, já os assentos estavam bem preenchidos quando B Fachada subiu ao palco, para dar início à noite. O músico lisboeta apresentou-se ao público de viola braguesa ao peito e rapidamente foi avançando pelas músicas de Rapazes e Raposas (2020). Mesmo quando a palheta partiu – na primeira das duas vezes –, o artista seguiu ligeiro, dizendo que “não se pode perder muito tempo”.

Contagiados pela boa disposição e atitude irrequieta de B Fachada, houve quem se levantasse das cadeiras para dançar ao som de “Padeirinha” e foram vários os momentos em que a música se acompanhou com palmas da plateia. O artista revelou que visita regularmente o Minho e considera que a região é o verdadeiro centro do país: “lá em baixo é meia dúzia de pessoas, aqui está toda a gente. É uma maravilha”. Apesar de gostar bastante do Norte, tem a certeza que “cá também há destes” – disse, ao começar a tocar “Lambe-Cus”. Antes do final do concerto, houve ainda tempo para imitações de linces ibéricos, mas os 45 minutos agendados para o concerto passaram num instante. “Disseram que era para dar tudo em 45 e eu dei tudo em 45”, afirmou B Fachada.

Francisco Alves | ComUM

Em passo apressado a caminho do Café Concerto, onde a seguir atuavam Redoma, chega-se ao espaço ainda bastante vazio. As artistas do Porto apresentaram parte (2022), mas tocaram também temas do próximo EP, como o singledelírios mensais”. Explicando que “é um prazer e uma coisa estranha” estar num cartaz com grandes nomes, as Redoma agradeceram ao público, que, entretanto, já compunha bem o espaço. Apesar da modéstia, Carolina Viana (voz) e Joana Rodrigues (produção) mostraram-se capazes de dar espetáculo, num concerto íntimo e tranquilo. No final, e após aplausos entusiasmados da plateia, despediram-se, dizendo que a seguir vinha “mais malta fixe fazer coisas mesmo fixes também”.

A próxima neste grupo de “malta fixe” foi Ana Lua Caiano, no Box do CCVF, que se apresentou em português e em inglês. Sempre muito sorridente, ia trabalhando com a ajuda de loops, para criar um ambiente sonoro cheio a partir de sons simples. Ora fosse a bater no bombo, no microfone, com os pés no chão ou com a ajuda do teclado à sua frente, a multi-instrumentalista construía a cama de ritmos onde deitava a sua voz, mas nunca para descansar. Pelo meio, pediu ainda ajuda ao público para cantar “Ando em Círculos”, não hesitando a plateia a cumpri-lo. Com vários membros do público a dançar e cantar consigo, Ana Lua Caiano tocou temas de Cheguei Tarde a Ontem (2022) e do seu próximo disco, ainda não publicado. No final, para lamento da artista e do público, não houve tempo para “só mais uma”.

O tempo, agora, era de AZAR AZAR, de novo no Café Concerto do CCVF. Desta vez com a sala mais cheia, o quinteto liderado por Sérgio Alves, no teclado, apresentou Cosmic Drops (2023) e ainda outros temas de discos anteriores. O público foi levado numa viagem de jazz, com visitas ao afrobeat, sintetizadores na bagageira e o saxofone de Samuel Silva de pé no para-brisas – era no final dos seus solos que os aplausos se intensificavam. Ao conjunto de “melhores amigos” reunido por Sérgio Alves juntou-se ainda Helena Neto, para interpretar a parte de “Dreaming Waves” que, em estúdio, pertence a Beth Hirsch. As cabeças da plateia abanaram de início ao fim, ao ritmo das músicas que não deixavam ninguém parado.

Francisco Alves | ComUM

Voltando à Box, o cenário era diferente do que se tinha visto até ao momento. Ainda não tinha chegado a hora do último concerto da noite e já havia quem guardasse lugar sentado no chão, no meio de uma plateia consideravelmente cheia. Pouco tempo depois, subiam ao palco os Linda Martini, com o habitual figurino completamente preto e sob fortes aplausos, ao som do início de “Eu Nem Vi”. Em tom de brincadeira, e referenciando o concerto de Ana Lua Caiano, o baterista Hélio Morais disse que só falavam em português, porque “há o Google Translate” – mais tarde, deu “props” à artista pelo “concerto do caraças”.

Numa pequena pausa, fizeram uma breve retrospetiva sobre os 20 anos da banda que começou na universidade, “sem pretensões”, e agora é um dos maiores nomes do rock português. A “experiência muito prazerosa”, nas palavras da baixista Cláudia Guerreiro, continuou então com a máxima força ao som de “Belarmino Vs”, com imagens do filme Belarmino (1964) a passar no fundo. O público, nunca parado ou mudo, aqueceu rápido o ambiente no CCVF e a energia crescia cada vez mais com “Ratos” e “Rádio Comercial”. Para não variar, o concerto terminou com “Cem Metros Sereia”, cujo refrão foi, como habitualmente, prolongado pelo público, mesmo depois de a banda abandonar o palco. Após um curto compasso de espera, os Linda Martini regressaram para tocar “Dá-me A Tua Melhor Faca” no encore e dar por terminada, de vez, a primeira noite do Westway LAB 2023.

O festival continua no sábado, dia 15, com concertos durante a tarde, em vários locais de Guimarães, e à noite, no Centro Cultural Vila Flor.