Sobre um pai que lutou até onde podia contra o vício do seu filho que se tornou irreconhecível. Lançado em 2008, ganhou merecidamente maior reconhecimento após a sua passagem para o audiovisual e desde então tem apresentado um grande papel na vida de outras pessoas que se encontram na mesma situação ou na conscientização para quem não se encontra.

Seguimos na primeira pessoa a visão de David Sheff, jornalista e autor, pai de Nic Sheff que se tornara toxicodependente. Durante a obra é acompanhada a vida de ambos tanto na sua banalidade como nos dias mais escuros. É relatada uma longa pesquisa por parte de um pai que fez de tudo para ajudar o seu filho na luta contra as drogas e um vício que alterou a relação próxima de ambos.

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Desde muito cedo Nic e o seu pai passavam muito tempo só os dois, sendo que ainda criança passara apenas os seus verões com a mãe. Foi criada deste modo uma relação muito forte entre os dois. David Sheff, a certo ponto, tem mais dois filhos com outra mulher e Nic mostra ser desde logo um irmão extremamente cuidadoso e amável.

Durante a sua adolescência, Nic entrou no mundo das drogas, inicialmente só no sentido de experimentar. David Sheff chega até mesmo a encontrar erva na mochila do seu filho, chateando-se, mas sem problematizar muito a questão. No entanto, foi pouco a pouco que o jovem fez novas descobertas nesse meio e acaba por perde-se por completo.

David realmente tenta compreender a posição onde o filho se encontra e o que pode fazer com isso mesmo, fazendo pesquisas a fio sobre as drogas que consome, outros casos parecidos e o melhor que pode fazer para salvar o filho. É uma jornada cheia de recaídas e tudo o que as mesmas envolvem, perante um esforço incessante pelo bem-estar de alguém que se perdeu e se tornou muitas vezes irreconhecível.

A leitura da obra torna-se muitas vezes cansativa pela quantidade de informação relativamente à pesquisa feita pelo autor que é colocada. De facto, acompanhamos o conhecimento adquirido que é crucial para a compreensão e aprendizagem, mas que por vezes custa mais um bocadinho na leitura do livro. A coragem da narrativa é muito importante na partilha com outras pessoas na mesma situação e mostra uma sensibilidade acrescida por parte do pai.

É escrita de forma cuidada uma jornada dolorosa, cheia de falsas esperanças e um grande apelo à empatia. David Sheff mostra uma força emocional enorme e reconhece o constante medo pela vida do filho até hoje, dando a histórias parecidas uma luz ao fundo do túnel, numa leitura crucial para todos.