O Papel de Parede Amarelo foi escrito por Charlotte Perkins Gilman, no final do século XIX. O conto clássico, que não ultrapassa as 56 páginas, trata de questões relacionadas com a saúde mental e a opressão feminina.
A cor amarela é muitas vezes vista como sinónimo de otimismo e luz, mas também pode ser associada a sentimentos negativos. Nesta obra, o amarelo incorpora os seus piores significados, e o seu tom envelhecidos e sujo desperta uma série de sentimentos estranhos à protagonista, que se sente capaz de cheirar o odor desagradável da cor.
O estilo de escrita do livro pode ser considerado peculiar para alguns leitores. A obra é narrada na primeira pessoa, como se fosse um diário, o que proporciona uma visão mais íntima e próxima da protagonista – cujo nome nunca é revelado – e dando a sensação de que acompanhamos de perto o declínio mental da personagem. Apesar disso, esta perspetiva e a linguagem descritiva e repetitiva, que também tornam a leitura mais angustiante e envolvente, afetam a fluidez na leitura.
Para além disso, a trama em si também se mostra limitada no que diz respeito ao desenvolvimento de personagens e eventos. A protagonista é apresentada como uma vítima passiva, cuja sanidade mental é corroída pelo seu isolamento numa casa que ela não gosta e pela sua obsessão com o papel de parede.
O foco está exclusivamente na representação simplista e estereotipada e na deterioração mental dela, o que pode ser considerado monótono e, em alguns momentos, previsível. Apesar de ser compreensível que o livro tenha sido escrito para abordar e destacar a mulher no contexto patriarcal da época, a falta de uma história mais abrangente pode tornar a leitura cansativa para alguns leitores.
Gilman abordou de forma pioneira o tema da saúde mental feminina e a sua ligação com o ambiente opressor, mas a maneira com que a doença é retratada pode parecer, como já foi mencionado, simplista e estereotipada, atualmente. Ainda assim, é possível perceber a crítica feita ao tratamento médico da época, mostrando como as metodologias utilizadas apenas agravavam o sofrimento das mulheres.
Não obstante às críticas mencionadas, O Papel de Parede Amarelo merece o seu reconhecimento como uma obra pioneira da sua época que contribuiu para o desenvolvimento do feminismo na literatura. Contendo temas importantes e relevantes até aos dias de hoje, estes veem-se necessários de abordar com uma visão mais complexa e abrangente, de modo a oferecer uma representação mais precisa e inclusiva das experiências femininas. A obra é uma nota mental poderosa das lutas enfrentadas pelas mulheres ao longo da história e uma chamada à reflexão sobre a igualdade de género e o respeito à saúde mental.
Título Original: The Yellow Wallpaper
Autor: Charlotte Perkins Gilman
Editora: Cultura Editora
Género: Contos
Data de lançamento: fevereiro de 2023