“O teatro, arte política por natureza, no seu discurso e ação, tenta encontrar ideias e dispositivos para desencadear relações com a problemática social atual.”
Maio está a despedir-se, mas em Guimarães junho prepara-se para vir com toda a força. De 1 a 10 de junho, o Centro Cultura Vila Flor (CCVF) e o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) vão abrir portas a mais uma edição dos festivais Gil Vicente. A 35ª edição conta com espetáculos, todos com início às 21h30, tais como: “Cosmos”, “As Três Irmãs”, “all you can eat”, “Solo”, “Um Quarto Só Para Si” e “Noite de Verão”.
O festival inicia, dia 1 de junho, com a peça “Cosmos”, peça esta em que as criadoras Cleo Diára, Isabél Zuaa e Nádia Yracema propõem uma viagem interplanetária. Através do resgate da mitologia africana e da revisão de eventos históricos do passado, é questionada a humanidade e o caminho percorrido até aos dias de hoje.
No dia seguinte, dia 2 de junho, Tita Maravilha apresenta-nos “As Três Irmãs”, a partir de uma leitura pós-contemporânea e multidisciplinar do clássico com o mesmo nome. A proposta é a de uma narrativa onde os conceitos base da sociedade normativa são revisitados a partir das subjetividades de cada uma das três irmãs.
No último dia da primeira semana, dia 3 de junho, Plataforma285 apresenta “all you can eat”, um espetáculo que cruza teatro, performance, instalação, dança e concerto ao vivo. A apresentação busca reclamar o direito ao ócio, enquanto se descobre cada vez mais preso, cada vez mais produtivo, cada vez mais rentabilizado.
A segunda semana do festival retorna, dia 8 de junho, com “Solo”, onde Teresa Coutinho tenta aferir de que forma o teatro e o cinema contribuíram para a construção de uma ideia de Mulher que a moldou ou que quis repudiar.
O penúltimo dia de festividades, dia 9 de junho, recebe uma estreia. “Um Quarto Só Para Si”, do coletivo silentparty. É uma criação em que o teatro também abraçará exercícios experimentais e poéticos que propõem um olhar influenciado pela arquitetura do lugar, acreditando que experimentar diferentes modelos de construção – de espetáculos e de edifícios – é um exercício de imaginação de sociedades possíveis.
Por fim, o festival encerra com outra estreia, dia 10 de junho, com o humanismo e o existencialismo a serem capturados como fonte inesgotável para a formação de um campo sensível. Tocando ferramentas humanas como a voz e corpo para expor ansiedades e medos em “Noite de Verão”, de Luís Mestre, inserida na Tetralogia das Estações.
As habituais e essenciais atividades paralelas do evento não poderiam ser esquecidas, sendo promovidas nesta edição pelo Teatro Oficina e pelo seu diretor artístico convidado, Mickaël de Oliveira. O objetivo é tocar a noção de ‘gesto artístico’ e aproximar público, criadores, intérpretes e equipas artísticas em momentos de conversa pós-espetáculos e debates.
Três das conversas serão realizadas após os espetáculos, “As Três Irmãs”, “Um Quarto Só Para Si” e “Noite de Verão”, dias 2, 9 e 10 de junho. São também proporcionados dois painéis de debate sobre a questão do gesto artístico, nas tardes de 3 e 10 de junho, o primeiro sobre “O que fundamenta o gesto artístico” e o segundo incidindo sobre “Como apoiar a radicalidade do gesto artístico”.
Nesta edição de 2023, o diretor artístico dos Festivais Gil Vicente (Rui Torrinha) propõe desta forma “fazer estremecer as fundações do tempo e do espaço”, lembrando que a “o teatro, arte política por natureza, no seu discurso e ação, tenta encontrar ideias e dispositivos para desencadear relações com a problemática social atual.”