Em Portugal, existem cerca de 15 mil pessoas diagnosticadas com a doença celíaca, no entanto estima-se que o número efetivo se situe entre os 70 e os 100 mil.
No dia 16 de maio assinala-se o Dia Mundial da Consciencialização sobre a Doença Celíaca, uma doença autoimune causada pela intolerância ao glúten. O glúten é uma proteína que pode ser encontrada no trigo, aveia, centeio ou nos seus derivados como o pão, massas ou bolos. A data tem como objetivo alertar para a existência desta condição, assim como promover a melhoria das taxas de diagnóstico.
Matilde Araújo, 18 anos, frequenta o primeiro ano da licenciatura em Engenharia e Gestão de Sistemas de Informação na Universidade do Minho (UMinho). Foi aos 11 anos, após vários exames, que foi diagnosticada como celíaca. Em entrevista ao ComUM, contou que os sintomas começaram com “dores de barriga durante as refeições diárias”, mas que acabou por não dar grande importância. Depois dos exames, foi verificado que “essas dores de barriga estavam associadas a uma inflamação no intestino causada pelo glúten”. A condição gerou ainda o que gerou um atraso no seu “desenvolvimento em relação à altura e peso por falta de absorção de nutrientes”.
“A adaptação foi um bocado difícil, tanto por não poder comer aquilo que gostava, como também porque sentia que os alimentos sem glúten tinham um sabor e textura diferente, que para mim não era muito agradável”, contou Matilde. “Para não falar de hábitos que foram alterados em casa e na escola para ter o maior cuidado possível com a minha alimentação”, continuou. A universitária foi o primeiro caso celíaco na escola que frequentava quando foi diagnosticada. Depois de uma conversa com a direção e de uma sessão de esclarecimento para os funcionários da cozinha, foi criada uma opção sem glúten para ela. Na academia minhota, o caso foi diferente pois já existia o menu sem glúten. “A maior dificuldade que sinto é em relação aos bares ou nas máquinas de vending por terem poucas opções para mim”, confessa.
Uma das principais preocupações quando se é celíaco é o risco de contaminação cruzada, isto é, quando dois alimentos diferentes entram em contacto e o alimento “seguro” passa a conter uma pequena quantidade do alimento que contem glúten, mesmo que essa quantidade seja ínfima. Esse contacto pode ocorrer de maneira direta, como quando um alimento é colocado diretamente sobre o outro, ou de forma indireta, por meio de contacto com as mãos, utensílios ou equipamentos.
Segundo o Instituto de Administração da Saúde, existem entre 10 a 15 mil diagnósticos de doença celíaca a nível nacional. Contudo, supõe-se que o número legítimo ronde entre os 70 a 100 mil, devido à falta de diagnósticos. Matilde visa que o termo celíaco é desconhecido à maior parte da população. Por outro lado, o termo “intolerante ao glúten” já é mais conhecido, mas mesmo assim ainda há quem não saiba o que é e grande parte das vezes confundem o glúten com a lactose.”
Em Portugal, foi fundada, em 1992, a Associação Portuguesa de Celíacos (APC), uma associação sem fins lucrativos criada por médicos e pais de celíacos dedicada à prestação de serviços e apoio à doença através de programas de informação, consciencialização, educação e apoio. Hoje em dia, o seu site está recheado de informações e dicas para ajudar aqueles que sofrem desta doença a manter o melhor estilo de vida possível.
Após uma análise aos preços de vários supermercados portugueses, pode-se concluir que, atualmente no mercado, os produtos alimentares sem glúten são mais dispendiosos do que produtos alimentares equiparáveis com glúten. “Os alimentos sem glúten têm um modo de produção diferente, por isso compreendo que possam ser ligeiramente mais caros. No entanto, muitas vezes a relação preço qualidade não é a melhor e há alimentos que são realmente muito caros”, explicou a aluna.