Nas últimas três décadas, 53% dos lagos do mundo perderam grandes quantidades de água como consequência do agravamento da crise ambiental.

A revista Science publicou, esta quinta-feira, dia 18 de maio, uma investigação relativa ao tamanho e à quantidade de água presente nos lagos mundiais. Com a ajuda de uma série de satélites com mais de três décadas, o autor principal do estudo, Fangfang Yao, confirmou que “mais de metade dos maiores lagos do mundo diminuiu” desde 1990. O responsável acrescentou ainda que a avaliação foi “a primeira análise exaustiva de tendências e dos fatores de variabilidade do armazenamento global da água dos lagos”.

Com a agravação da crise ambiental e o seu impacto em algumas das maiores massas de água, incluindo um dos maiores lagos mundiais que se encontra quase seco, Fangfang Yao e alguns colegas situados em diversas universidades pelo globo produziram uma técnica que permite estimar a alteração do nível da água em cerca de 2000 lagos e reservas. O investigador, convidado na Universidade da Virgínia, conseguiu assim determinar o nível de 95% do armazenamento total de água dos lagos do mundo.

Ainda que haja esta diminuição, o estudo verificou que 24% dos lagos apresentaram aumentos relevantes no armazenamento de água. O interior do Planalto Tibetano e o Norte das Grandes Planícies da América do Norte são as áreas onde estas massas de águas tendem a situar-se. Também novos reservatórios, como as bacias dos rios Yangtzé (Amarelo), Mekong e Nilo comprovam estes dados.

Em avaliações anteriores estimava-se uma tendência para os lagos secos se tornarem ainda mais secos e os húmidos demonstrarem uma maior humidade. No entanto, o investigador principal apresentou dados diferentes. Constatou que tem havido “perdas generalizadas de água nos lagos nos trópicos húmidos e nas regiões de alta latitude ao longo das últimas três décadas”, confirmando que a seca mundial é mais extensa e preocupante do que se pensava.

Fangfang Yao refere que este problema não é surpreendente, dado o “consumo de água humano, o aquecimento climático e a sedimentação”. Já com o aumento da água em certos lagos, o investigador justifica com o “enchimento dos reservatórios e o aumento regional da precipitação e do escoamento da água”. A análise demonstra ainda que cerca de um quarto da população mundial vive em regiões com uma bacia hidrográfica com um lago seco, salientando a importância de soluções de gestão.

Yao propõe assim uma gestão dos lagos “de forma integrada com outros recursos hídricos”, dado o risco de desertificação causado pelo clima mais árido e pelas “não-linearidades dos lagos”. A acrescentar, o autor do estudo realça a importância de uma “comunicação da utilização da água” e um “cuidado em evitar o consumo excessivo durante os anos de seca”, prevenindo a perda de água e salvando os lagos fortemente impactados pela atividade humana.

A equipa de investigadores juntou cerca de 250 000 imagens satélite das áreas com lagos, captadas entre 1992 e 2020. Analisou a área de cerca de 1972 dos maiores lagos do planeta, informação disponibilizada em comunicado de imprensa. Acrescentaram ainda que “a combinação de medições de nível recentes com medições de área a longo prazo permitiu aos cientistas reconstruir o volume de lagos com décadas de existência”.