Numa atualidade em que temos fácil acesso a diversas ferramentas de edição de fotografia, qualquer pessoa pode efetuar pequenos retoques nas suas imagens, tais como remover espinhas, clarear os dentes, aumentar os olhos ou até alterar o tom de pele. Serão estas pequenas edições verdadeiramente inofensivas?
Estudos comprovam que este tipo de edição pode ser nocivo no que diz respeito à nossa saúde mental. A criação de uma persona online, com determinadas características e exigências da nossa parte, com base em padrões estéticos estabelecidos, pode levar à obsessão pelo alcance daquelas características na vida real. Alterações tão simples que podem levar a que a pessoa não aceite olhar ao espelho e aperceber-se da existência de características absolutamente normais e naturais no ser humano. Quando se trata de aspetos físicos que não podem ser alterados, o problema intensifica-se.
Este tipo de exigência pode conduzir a diversos problemas de saúde, como a dismorfia corporal, onde a pessoa não se reconhece no seu próprio corpo e procura defeitos, por vezes, inexistentes. O nosso cérebro adapta-se à imagem irrealista que foi criada nas redes sociais, que não corresponde à realidade.
Mesmo as fotografias que não têm qualquer tipo de edição na sua pós-produção não são um espelho da realidade, mas sim uma representação da mesma. O fotógrafo escolhe determinados ângulos e elementos que deseja incluir nesse registo, pelo que a construção de uma fotografia valoriza sempre determinados elementos em detrimento de outros. Esta prática não é, necessariamente, negativa; as fotografias publicadas em jornais, por exemplo, têm o intuito de contar uma história e provocar um determinado tipo de sentimento, da forma mais crua e realista possível. No entanto, é importante salientar que todo o conteúdo publicado é pensado e desenhado, para que possa transmitir a mensagem desejada.
Os criadores de conteúdos digitais com mais seguidores têm, muitas vezes, uma equipa que trata de toda a produção dessas imagens que são partilhadas. Fotógrafos, editores, maquilhadores, cabeleireiros e estilistas que planeiam essa encenação para fins de publicidade, de modo a criar um tipo de conteúdo mais apelativo aos utilizadores e possíveis compradores. Desta forma, é praticamente impossível uma pessoa que não trabalha com estas plataformas atingir os resultados que estes influenciadores alcançam, fotografias preparadas ao detalhe para este fim, com várias horas de produção envolvidas.
A importância de criar o nosso próprio ambiente nas redes sociais é extremamente importante nos dias de hoje. Uma marca que defende este comportamento é a Dove, com o projeto “Dove Self-Esteem Project”, onde são compartilhadas diversas campanhas de sensibilização a jovens, pais e educadores, no sentido de incentivar o amor-próprio, o autocuidado e a filtragem dos conteúdos consumidos nas redes sociais. A criação de uma “bolha” positiva, através do acompanhamento de influenciadores que partilham conteúdos inclusivos e representativos de diversos tipos de pessoas, páginas que incentivam um discurso inspirador e encorajador, é crucial numa sociedade repleta de conteúdos tóxicos que podem distorcer a mentalidade e rebaixar a autoestima e a saúde mental de quem utiliza este tipo de plataformas.
Deste modo, devemos ter um olhar crítico sobre o que nos é exposto e procurar entender, principalmente nas fotografias de outras pessoas, que estas foram, muito provavelmente, pensadas ao mais ínfimo detalhe para que pudessem ser selecionadas e, por fim, publicadas. Devemos estar cientes dos potenciais impactos negativos que o consumo deste tipo de conteúdos pode ter na nossa saúde e, acima de tudo, aprender a aceitar as nossas características, com recurso a algum tipo de apoio profissional, se necessário.
Maio 11, 2023
Excelente artigo, retrata muito bem a “ditadura” que vivemos, onde o culto da imagem e o esconder de “imperfeições” é levado a extremos ridículos. Saudades do tempo em que as rugas eram sinal de experiência de vida e eram abraçadas como privilégio. Obrigada dra Marta