A data procura sensibilizar e aumentar a igualdade no serviço médico e o conhecimento relativamente a doenças crónicas femininas pouco reconhecidas.

A 28 de maio de 1987 foi declarado o Dia Internacional da Saúde Feminina. Nesta data são várias as entidades que se juntam na promoção de um melhor bem-estar da saúde física e psicológica das mulheres. Ainda existe bastante discriminação no acesso aos cuidados médicos e continua a ser necessário um esforço de todos para que haja uma mudança completa na atenção que a saúde feminina recebe.

A endometriose, uma doença crónica pouco valorizada, tem um grande impacto na vida das mulheres e o seu diagnóstico é, na maioria das vezes, tardio. Médicos ginecologistas da CUF caracterizam esta doença pela presença de tecido endometrial – o tecido que forra o útero por dentro da cavidade – fora da cavidade uterina. Normalmente, este tende a alojar-se na pélvis e implanta-se em órgãos como a trompa, o ovário, entre outros. Segundo a presidente da MulherEndo (Associação Portuguesa de Apoio a Mulheres com Endometriose), Susana Fonseca, os sintomas variam de mulher para mulher, mas os principais centram-se na “dor incapacitante” que, por vezes, “não cede com medicação oral”, “dor nas relações sexuais e simulação de infeção urinária”.

A responsável refere que “há mulheres que vêm a sua vida comprometida por causa desta doença” e, com a progressão da mesma, “num mês inteiro, têm apenas uma semana de vida normal”. Há mulheres que enfrentam uma maior dificuldade ao nível da infertilidade. De acordo com o ginecologista-obstetra António Setúbal, “35% a 70% das mulheres com endometriose têm dificuldade em engravidar”, sendo que apenas descobrem a existência do problema quando procuram por uma justificação para a sua incapacidade fértil.

Susana Fonseca esclarece que “o primeiro passo para o diagnóstico é ouvir as queixas da doente”, queixas que nem sempre são ouvidas corretamente. A educadora menstrual reforça que “se a doente estiver com obstipação quando está menstruada, não associa” e há uma falta de confortabilidade por parte das pacientes em descrever o que sentem a um profissional de saúde. Nesse sentido, Susana Fonseca alerta para que “os profissionais de saúde valorizem os sintomas e despertem para a possibilidade de endometriose”. A condição é “bastante negligenciada pelo nosso Serviço Nacional de Saúde”, afirma a responsável, e, apesar de ser crónica, em Portugal não é considerada como tal. Segundo informações fornecidas pela MulherEndo, estima-se que aproximadamente 2% a 17% da população feminina seja afetada.

No que toca ao tratamento, esta é uma doença que não tem cura e os tratamentos existentes têm o objetivo de diminuir o impacto doloroso da mesma e a gravidade dos sintomas. Assim, a endometriose requer um plano longo com uma abordagem terapêutica ou clínica. Há diversas opções que incluem terapias analgésicas, hormonais, cirurgia minimamente invasiva, conservadora ou radical, procriação medicamente assistida ou uma combinação de todas. A nutrição, psicologia e fisioterapia do pavimento pélvico são abordagens de igual relevância e que devem ser levadas em conta. Todos estes tratamentos podem provocar efeitos secundários e fornecem um alívio a curto-prazo, sendo importante escolher corretamente o que se pretende adotar do ponto de vista médico, tendo em conta os objetivos da doente.

Na luta pelo reconhecimento da endometriose, a quantidade de desinformação e mitos é o grande desafio enfrentado pelas mulheres. A presidente da direção adverte para o mito em torno das dores menstruais, algo que é considerado por avós e mães como normal e temporário. Realça ainda que este mito “é um dos nossos piores inimigos, porque faz com que as próprias mulheres não procurem ajuda cedo” e compromete o diagnóstico atempado. Susana Fonseca defende que não se deve aceitar ou tolerar uma dor incapacitante que perdure durante semanas, mas sim procurar perceber o que se passa com o corpo. Uma identificação tardia da endometriose pode exigir “cirurgias complexas” ou, em alguns casos, levar à não restituição da fertilidade.

Ainda assim, “não é uma sentença”. Susana salienta que a endometriose “não tem de ser encarada como uma fatalidade, pode ser encarada como uma oportunidade”. A Associação Portuguesa de Apoio a Mulheres com Endometriose trabalha para uma maior consciencialização e conhecimento relativamente à doença, realizando sessões de esclarecimento em diversas escolas pelo país. Susana Fonseca defende que as sessões fazem com que “as raparigas estejam mais alerta para poder procurar ajuda” e perceber o conceito. A MulherEndo marca também presença, todos os anos no dia 1 de março, na Endomarcha, um evento que percorre várias capitais mundiais na esperança de divulgar e promover a luta pelo reconhecimento e valorização da endometriose. É uma de muitas outras associações e movimentos que procuram diariamente melhorar o serviço de saúde para as mulheres.