Sombra, luz, guerra e amor: estes são alguns dos elementos garantidos na segunda temporada de Shadow and Bone. Os fãs da série inspirada nos livros de Leigh Bardrugo veem agora a luz, após dois anos de espera. Personificados em oito episódios com cerca de uma hora, a espera mostrou valer a pena.
Alina Starkov não teve um percurso fácil após descobrir o raro dom de invocar a luz: levada para o lugar onde outros humanos habilidosos (os Grisha) vivem, caçada por inimigos, usada como amplificador de Darkling para expandir o Sulco. Mas parece que agora, longe de Ravka e com Darkling morto, existe apenas um objetivo a cumprir: encontrar o Chicote Marinho, o amplificador que destruirá o Sulco que divide o país. Mas estará Darkling realmente morto?
Para cumprir o que deseja, Alina precisará de aliados. Além do seu melhor amigo, amante e desertor do Primeiro Exército, Mal Oresetv, a protagonista encontra na sua jornada outros personagens. Destacam-se os gêmeos Grisha Tamar e Tolya, e o capitão e corsário Sturmhond.
A introdução destes novos personagens foi, para além de coerente, bem desenvolvida. O espectador consegue criar um afeto e admiração pelos mesmos, destacando-se Sturmhond, que posteriormente descobre-se ser o filho mais novo do rei de Ravka: Nikolai Lantsov. Nikolai é a soma de todas as características que tornam alguém interessante e querido pelo público. Ao seu recorrente sarcasmo adiciona-se afabilidade e coragem, servindo não só de alívio nas cenas mais tensas da temporada como de âncora que prende o espectador ao ecrã.
Mesmo com as visões de Alina a alertarem-na para a possibilidade de Darkling ter sobrevivido aos eventos finais da primeira temporada, a recém-Grisha não conseguiria imaginar o que este estaria a planear. A sua ganância e desejo de vingança por todos aqueles que mataram e torturaram os seus semelhantes fá-lo revelar um lado muito mais sombrio. O novo rumo da narrativa ganha, daí em diante, um tom muito mais tenebroso e tenso em comparação ao início da história, evidenciando ainda mais a característica dos livros de Leigh Bardrugo.
É necessário ovacionar as atuações do grupo que acompanha o vilão. Para além de Ben Barnes saber criar um vilão igualmente temível e humano, Daisy Head ofusca os restantes com a sua excelente interpretação de Genya Safin. Mesmo sendo uma personagem secundária, a forma como Head expressa traumas passados e eventos atuais oferece lágrimas e arrepios. É deixado o desejo de se querer ver mais, quer de Genya, quer da atriz.
Contudo quem rouba, de facto, a série (e não sendo eles, na verdade, criminosos) são os Crows. A Kaz, Inej e Jesper junta-se Nina e Wylan, um novo personagem introduzido na segunda temporada, mas bastante amado pelos fãs dos livros.
Antes de se aliarem a Alina e Nikolai na destruição do Sulco, o grupo de marginais têm outros problemas por resolver. O clube de Kaz (o Crow Club) é destruído pelo rei do Barrel, Pekka Rollings, e o passado volta a atacar o líder do grupo. O desejo sanguinário de vingança de Kaz reaviva o seu passado traumático, sendo considerado um dos mais perturbadores na literatura jovem adulta. Porém, o grau de impacto é questionado a quem vê a série sem o conhecimento literário.
Para prosseguir o seu plano, Kaz Brekker contrata Wylan para “homem de demolições”. O mais recente membro conecta-se a Jesper longe do esperado pelos fãs, porém a nova abordagem foi recebida com entusiasmados elogios. Nina junta-se ao grupo com o objetivo de retirar o seu “final feliz”, Matthias Helvar, da prisão mortal de Hellgate. Enquanto ao “romance-não-romance” entre Kaz e Inej, começamos a conhecer melhor os sentimentos de cada um. O desejo de Inej esbarra-se com a impetrabilidade de Kaz, tornando a relação simultaneamente angustiante e eufórica para os fãs do casal.
As atuações deste grupo são, também, de se aplaudir, e deixaram ainda mais certezas de que os atores saíram das páginas de Bardrugo. Freddy Carter mostrou a sua excelência ao interpretar o lado mais cruel de Kaz na perfeição; Amita Suman, Danielle Galligan e Kit Young ao conferir, respetivamente, o lado mais badass, emocional e cómico dos personagens; e Jack Wolfe por, como anunciam os fãs, ser “o Wylan perfeito”. Os sentimentos agridoces caem na escassa participação de Matthias, e pela pouca profundidade conferida a Inej, onde não faltaram momentos para introduzir, subtilmente, os seus traumas.
Uma das únicas críticas à segunda temporada de Shadow and Bone são dadas pelos fãs dos livros. Afirmando que os criadores “introduziram todos os livros do Grishaverse, meteram numa liquidificadora e esperaram para ver o que aconteceria”, a quantidade de situações em apenas oito episódios pode se ter tornado avassaladora. Contudo, mesmo com a constante exposição de novos eventos e ramificações narrativas, é importante relembrar as palavras da escritora e co-produtora da série, Leigh Bradrugo: “A série será um universo paralelo ao contado nos livros. Apesar dos mesmos eventos serem narrados, a ordem e os acontecimentos que sucedem serão diferentes”.
O desejo dos fãs reflete-se agora num spin-off do gangue mais amado. O final da série dá espaço para a narrativa de Alina e dos Crows seguir, finalmente, caminhos diferentes. Ambos são de deixar o espectador ansioso para o que vêm a seguir – e, se continuar no mesmo raciocínio das duas temporadas, antecipa-se excelência.
Título Original: Shadow and Bone
Realização: Eric Heisserer
Argumento: Eric Heisserer, Daegan Fryklig, Leigh Bardrugo
Elenco: Jessie Mei Li, Bem Barnes, Archie Renaux, Freddy Carter, Amita Suman
Inglaterra
2021