A mais recente novidade para a Liga BPI 2023/2024 é a inclusão da tecnologia de vídeoarbitragem em todas as partidas. Assim, o escalão máximo do futebol feminino português torna-se a primeira liga europeia a disponibilizar esta tecnologia.
Contudo, surgem várias questões relacionadas com este tema. Temos árbitros suficientes e capacitados para desempenharem esta função? Existem assim tantos árbitros formados ou em formação? Não será melhor primeiro chegarmos a uma Liga BPI com todos os clubes 100% profissionalizados?
Mesmo sabendo que o VAR já é utilizado no futebol feminino português nas finais da Taça de Portugal, da Supertaça e da Taça da Liga, onde já aí fomos pioneiros a nível mundial, não sei se não estamos a dar um ‘passo maior que a perna’. No entanto, Fontelas Gomes, presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, acredita que é um passo natural. Na sua ótica, “é um grande passo para a competição, na procura de uma cada vez maior verdade desportiva”, garantiu o presidente. Contudo, é preciso investir na formação de novos árbitros e também nos que já tem uma carreira a ajuizar os jogos.
Será que os clubes têm condições para receber esta nova tecnologia? No principal escalão, ainda nem a igualdade no tipo de piso existe, quanto mais igualdade de condições. Há clubes que disputam as suas partidas em relvados sintéticos, algumas vezes com dimensões reduzidas e sem muitas condições. Como o VAR lá vai chegar?
Todos sabemos que a arbitragem portuguesa não é falada pelos melhores motivos. Basta analisar que no campeonato do mundo que decorreu no Quatar não tivemos nenhum árbitro principal, nem auxiliar. Mas, tal como o futebol feminino, a sua arbitragem também tem de evoluir. Já tivemos uma árbitra portuguesa a apitar uma partida da Liga dos Campeões feminina. E agora no Mundial deste ano? Nada. Mais uma vez não vai estar presente nenhuma árbitra de nacionalidade portuguesa.
O que nos falta para estarmos ao nível mundial? Talvez a resposta certa e a mais fácil são os apoios. A federação não pode exigir algo que não consegue apoiar de forma eficaz. Tem de se investir mais no futebol feminino nacional e tudo que lhe está interligado. Claro que os árbitros não estão à altura internacional. O futebol português também não. A Liga BPI é composta por 12 equipas e apenas três são 100% profissionais. Estes emblemas são os ditos ‘grandes’: o Sporting CP, o SC Braga e o SL Benfica.
Não será melhor começar por aqui? Temos jogadoras a trabalhar enquanto jogam futebol, porque a sua paixão não lhes paga as contas. E é possível chegar ao profissionalismo? Sim, se existir um investimento por parte dos clubes, mas também da federação.
No mundo do futebol, tudo é um negócio. Até um simples contrato reflete esta realidade a nível nacional. Existe jogadoras que têm um contrato amador e depois as privilegiadas têm um contrato profissional, com direito a claúsula, prémios e objetivos. Numa categoria inferior surge o “falso amadorismo” ou “semi-profissionalismo”, onde as condições são inexistentes. O presidente de um dos clubes do principal escalão explicou ao Diário de Notícias que há uma “incapacidade dos clubes suportarem os impostos associados ou simplesmente pouparem alguns trocos e não terem o fisco à perna”.
Outros usam os termos do masculino e expressam que o contrato só é válido depois de registado na Liga Portugal. Mas esquecem-se que o futebol feminino é amador e da responsabilidade da federação. No entanto, quando se fala de dinheiro ninguém da federação dá a cara, muito menos quando se sabe que se finta a lei.
Já há países onde as seleções femininas e masculinas ganham o mesmo salário. Porque não se faz isso em Portugal? Não temos dinheiro? Ou a mentalidade que impera ainda é a de que as mulheres não têm nível, nem classe para jogar futebol?
Pelo que tenho visto, as jogadoras portuguesas e as estrangeiras que atuam em Portugal, têm imensa qualidade e são capazes de se impor internacionalmente. A prova disso é a primeira presença da seleção feminina no Campeonato Mundial de 2023 que se realiza este verão na Austrália e na Nova Zelândia. As portuguesas são capazes e têm lutado pela evolução do futebol em Portugal, não só jogadoras, mas também árbitras. O que falta agora é a federação abrir mais os bolsos para o feminino e apoiar quem luta por dignificar o nosso país que a nível interno, como externo.