A onda, ou originalmente Die Welle, é um filme alemão lançado em 2009, realizado por Dennis Gansel. A produção desta obra cinematográfica surge em seguimento de uma experiência social realizada em 1967, na Califórnia.
A longa-metragem inicia-se com a proposta de realização de um projeto escolar, que pretende dar a conhecer as várias formas de governo e os vários regimes políticos existentes. Assim, é dado especial destaque ao professor Rainer Wenger, que ficou encarregue de lecionar os conteúdos inerentes à autocracia, à ditadura e ao fascismo.
Inicialmente apreensivos, os alunos contestam a possibilidade da implementação do regime autocrático na sociedade moderna. Desta forma, o professor Wegner dá início a uma experiência prática chamada “A Onda”, assumindo o papel de líder absoluto da turma, por uma semana. Recorrendo ao estudo da História para se inteirar sobre as técnicas de manipulação de massas, é ele que estabelece o regime ditatorial no seio da turma: introduz regras restritas; implementa a obrigatoriedade do uso de uniforme; monta um sistema hierárquico; exige um tratamento especial; cria um logotipo; e até uma saudação. Rapidamente, a experiência dá azo à constituição de uma mentalidade coletiva, e dá-se o desenvolvimento de um senso de unidade e poder.
No entanto, à medida que o movimento se desenvolve, as diferenças entre é o que a realidade e a experiência começam a perder força. Há quem se recuse a assimilar a experiência, negando-a fortemente. Por outro lado, inevitavelmente, há alunos que começam a abusar do poder que lhes foi dado, tornando a existência d´A Onda mais opressiva e intensa, mesmo fora do contexto escolar.
A trama acaba por se ramificar, focando no impacto que o movimento tem na vida de alguns alunos. É dado a conhecer o caso de Marco e Karo, um casal que vê a sua relação desgastar-se, por força das ações fascistas. Isto porque Karo recusou, desde início, tornar-se submissa às imposições totalitaristas da experiência, adquirindo um papel como membro da resistência. Por sua vez, Marco tornou-se um elemento fervoroso da experiência fascista, o que leva à origem de vários problemas conjugais.
Adicionalmente, o espectador descobre Tim, um aluno carente, negligenciado pelos pais, que vê n´A Onda um sentimento de pertença. Assim, torna-se o aluno mais dedicado à causa, chegando mesmo a comprar uma arma para fazer frente aos opositores do seu regime. À medida que a experiência se intensifica, o professor Wegner, apercebendo-se do descalabro da situação, tenta pôr fim à experiência, mas vê-se impedido pelos alunos, que a defendem a todo o custo.
Passando agora à análise do filme, é notório o seu impacto a nível moral, uma vez que permite alargar perspetivas sobre o poder da manipulação e do conformismo. Da mesma forma, alerta para as consequências do empreendimento de ideias radicais que não são questionadas, nem confrontadas.
Quanto às personagens, destaca-se a do professor Rainer Wenger, interpretada por Jürgen Vogel, que demonstra ser bastante intrigante. Contrariamente ao desânimo inicial face à tarefa que lhe tinha sido atribuída, assiste-se, num segundo momento, ao adensar de um entusiasmo. Isto porque, até então, nunca tinha conseguido receber um feedback tão positivo por parte dos alunos.
Assim, é quando a personagem se deixa levar pela dinâmica criada, que se dá ênfase à facilidade com que, mesmo as pessoas bem-educadas e bem-intencionadas, são capazes de ser influenciadas pelo sentimento de pertença e autoridade. Mais para o final do enredo, é o próprio professor que cai em si e põe em causa a falta de ética e de moralidade emprenhadas na experiência. É, por isso, o impulsionador do movimento, e a pessoa que, depois, o deseja dissolver. Adquire, assim, um simbolismo bastante complexo e multifacetado, relembrando a importância da responsabilidade pessoal.
Vogel apresenta, deste modo, um trabalho exímio a nível da representação. Sabendo transmitir, sabiamente e de forma cativante, a transformação do professor ao longo da trama (passando de um simples educador, a alguém seduzido pelo próprio poder).
Também a personagem de Tim, interpretada por Max Riemelt, é bastante impactante, relembrando que as fragilidades psicológicas e morais são os principais propulsores de atitudes desenfreadas e impulsivas. Sendo um aluno carente e sedento por atenção, vê n´A Onda uma família onde é aclamado pelos restantes alunos e se torna também uma imagem a seguir. Demonstra ser, posteriormente, agressivo, violento, e completamente alheio aos perigos das suas ações.
A obsessão que sente em ver crescer o movimento, é encarada como um reflexo das suas antigas fraquezas, talvez por este julgar ter encontrado o rumo para a sua vida. Atua, por isso, como um alerta de que a vulnerabilidade se pode tornar um elemento perigoso. Desta maneira, Riemelt é capaz de capturar a vulnerabilidade e o carisma de Tim, permitindo que os espectadores se tornem empáticos com as lutas interiores da personagem.
Por fim, a progressão da personagem de Tim representa a facilidade com que os indivíduos são seduzidos pelo poder e pelo sentimento de pertença. Enaltece, paralelamente, a importância do desenvolvimento autocrítico, de modo a evitar situações semelhantes.
A obra cinematográfica assemelha-se a um estímulo ao pensamento crítico, recordando os efeitos da submissão cega, que podem conduzir à revivência de acontecimentos negativos do passado. Relembra, ao mesmo tempo, a importância da educação para a formação de cidadãos informados e conscientes, sendo que, na longa-metragem, é bastante trabalhada a importância da resistência à tentação do conformismo com ideias coletivas, impulsionando a coragem para desafiar ideologias perigosas.
Título Original: Die Welle
Realização: Dennis Gansel
Argumento: Todd Strasser, Ron Jones
Elenco: Frederick Lau, Max Riemelt, Jürgen Vogel, Jennifer Ulrich
Alemanha
2009