A simples ideia de assistir uma obra como A Raiz do Medo ao lado de um parente pode acabar por se tornar uma experiência extremamente infeliz. É aconselhável preparar-se para ouvir as seguintes exclamações: “ai credo” ou “mas o que é que está a acontecer”.
A Raiz do Medo estreou em 1996 e muito resumidamente conta a história de Aaron Stampler, um acólito encontrado ensanguentado a tentar fugir do local do crime. Mais tarde, é presente a juiz acusado de um homicídio macabro.
A defesa do jovem fica ao cargo de Martin Vail, personagem de Richard Gere, um advogado ambicioso à procura de fama e dos holofotes. Por este se tratar de um caso extremamente mediático, procura provar a inocência do jovem, ou a falta desta.
Se numa conversa entre amigos o leitor ouvisse esta pequena sinopse poderia pensar que esta se trata de uma narrativa formulaica, batida e até simplória. Não poderia estar mais enganado.
O guião começa de forma bastante simples, direto à ação e com as motivações dos personagens apresentadas de forma muito clara. O que se sucede a seguir apanha o espetador de surpresa e atira contra a parede a perceção que se tem daqueles personagens e do que os move.
Chega até ao ponto de o espetador estar desconfiado em relação ao que é apresentado. Se é verdade ou uma manobra do guião de tentar ludibriar até a mais perspicaz das mentes, porque, como é óbvio num bom filme de investigação dos anos 90, nem tudo o que parece é e acreditar no que dizem ser verdade acaba por ser um tiro no pé.
São reviravoltas atrás de reviravoltas, momentos que contradizem reviravoltas anteriores para depois colocar uma nova desconfiança que poderá ou não ser verídica. Com estes guionistas nunca se sabe.
Mas não só de reviravoltas e manobras de guião se trata este filme, há uma critica muito forte presente na narrativa. Não só ao poder político, mas também ao poder exercido pela Igreja Católica e de que forma é que estes se cruzam e se influenciam mutuamente.
Apesar de ter sido lançado há 27 anos, as críticas mantêm-se atuais. Ainda por cima tendo em conta o atual panorama em relação ao abuso de poder efetuado pela Igreja Católica e por aqueles que dela fazem parte.
As atuações do elenco contribuem para o adensar da atmosfera pesada criada pela obra. Edward Norton dá a atuação de uma vida e tendo em conta o currículo do ator é dizer muito. As mudanças de humor, as micro-expressões que tanto podem criar empatia como aterrorizar o público, são simplesmente excecionais.
Já Richard Gere convence como um típico advogado bon vivant dos anos 90 capaz de pedir um copo de whiskey com duas pedras de gelo às 10horas da manhã. Além disso, com o carisma digno de uma estrela de Hollywood como é seu habitual.
Resumindo, A Raiz do Medo é uma obra com uma crítica social forte, twists mirabolantes e atuações espetaculares. É, com certeza, um dos clássicos dos anos 90 que irá continuar a deixar de boca aberta quem o experiencia pela primeira vez.
Título Original: Primal Fear
Realização: Gregory Hoblit
Argumento: William DiehlSteve ShaganAnn Biderman
Elenco: Richard GereLaura LinneyEdward Norton
Estados Unidos da América
1996