Uma data que centra a atenção do globo naqueles que procuram sobreviver e prosperar longe do conflito e da perseguição.

O Dia Mundial do Refugiado foi primeiramente comemorado, a nível mundial, no 20 de junho de 2001. Seguindo o 50.º aniversário da Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos Refugiados, a data tem como objetivo alertar para os direitos, as necessidades e os sonhos dos mesmos. Desta forma, ao longo dos anos foi possível observar uma gradual mobilização da vontade política e dos recursos, para que os refugiados possam não só resistir, mas também progredir.

A Ucrânia sempre foi um país preponderante para a ordem da segurança mundial, embora por vezes ignorado. Hoje, encontra-se na linha da frente de um conflito entre duas grandes potências cujo qual, segundo vários analistas, vai prevalecer e controlar as relações internacionais futuras. Esta guerra tem vindo a causar um grande impacto nos vários media e na economia de diversos países. No entanto, quem a sente na pele, nos ossos, na vida pessoal e material são os que foram obrigados a fugir e a refugiar-se fora daquilo que é a sua casa mãe.

Com a ajuda de Alina Didenko, atualmente estudante universitária, o ComUM teve a possibilidade de ouvir as perspetivas de três testemunhas ucranianas. Foram diferentes gerações que experienciaram a guerra, uma filha, uma mãe e uma avó, mas os sentimentos são os mesmos. Para Svetlana Didurik, mãe de Alina, “foi difícil deixar tudo para trás e embarcar numa jornada desconhecida para recomeçar a vida”. Apesar da dificuldade em convencer a sua mãe a fugir, a segurança de todos era o mais importante e, segundo Svetlana, “ficar lá [em Kryvyi Rih] era extremamente perigoso”. Do ponto de vista de Ludmila, avó de Alina, “havia confusão, medo, negação e uma falta de entendimento da situação”.

Esta não foi a primeira vez de Svetlana a largar tudo o que tinha para trás. “Quando eu era adolescente, uma guerra despoletou em Transnístria”, explica, “e os meus pais fizeram a decisão de não querer que os filhos testemunhassem os horrores da guerra”. Nesse sentido, Svetlana e a família mudaram-se para a Ucrânia, mas anos depois voltaram a encarar a fuga e a sobrevivência. Ludmila realça a diferença entre os dois conflitos, referindo que em Transnístria “a escala de ameaça e perigo era muito mais pequena”. Já na invasão por parte da Rússia à Ucrânia, “basta olhar para o tamanho do território no mapa para perceber a magnitude”.

Para a família de Alina, a principal prioridade era “proteger as crianças e os netos da guerra”, aponta Svetlana, enquanto os homens ficavam em terra para proteger a sua nação. Agora, procuram recomeçar num país em que a barreira linguística é ainda maior. Quando chegaram a Portugal, sentiram grandes dificuldades, dado que, sem um bom controlo da língua, a possibilidade de exercer uma atividade profissional dentro do seu domínio de especialização era mínima. Consequentemente, “apenas conseguimos encontrar empregos mal remunerados”, relata Svetlana.

Apesar dos desafios, Ludmila esteve alguns anos em Portugal, entre 2002 e 2009, o que lhe deu alguns conhecimentos da língua portuguesa. As familiares realçam ainda a ajuda de amigos portugueses e do governo, defendendo que “o apoio financeiro do governo português foi crucial para os refugiados ucranianos”. No portal de serviços públicos, são várias as ajudas fornecidas pelo Estado português à comunidade ucraniana no país ou em fase de deslocação. Desde acolhimento a proteção e residência temporária, o país esforça-se por prestar apoio a estes refugiados.

Alina acrescenta que teve a oportunidade de estudar na universidade do Porto no campo da animação, o seu favorito. “Surgiu uma ajuda incrível com um programa de bolsas de estudo da Nexus 3.0”, uma organização sem fins lucrativos de direito privado português, salienta a estudante universitária. Para Alina, o curso e todo o apoio que recebe “ajudam não só a desenvolver a esfera pessoal, mas também abordar o tema da guerra na arte”.

No que toca às perspetivas para a guerra, as opiniões não diferem. As três gerações acreditam na necessidade de uma cooperação entre os vários países. Ainda que a esperança seja grande, Svetlana relembra que “vão ser precisas décadas para reconstruir tudo e a Ucrânia depende muito do apoio contínuo de todos”. Quando questionadas relativamente à mensagem que pretendem passar a todos os refugiados, as três familiares partilham uma palavra: “unam-se”. A situação de conflito pode ser desesperante, desafiadora e cansativa, mas pedem para que todos os que vão sobrevivendo se mantenham humanos.

O Dia Mundial do Refugiado é uma data que procura sensibilizar as pessoas para este tipo de histórias, que percorrem não só três familiares, mas mais de 35 milhões de pessoas em todo o mundo.