Estudo salienta os constrangimentos, vantagens e mitos que possam surgir com a imagem social criada à volta do ensino secundário profissional (ESP).
O ensino profissional em Portugal revela-se uma oportunidade mais barata para alunos que não tenham intenção de prosseguir estudos depois do ensino obrigatório. Este tipo de ensino é associado a alunos com menor aproveitamento escolar ou condições socioeconómicas mais desfavoráveis. A plataforma Edulog, em parceria com a Universidade de Aveiro, publicou o estudo “Como Valorizar o Ensino Secundário Profissional? Dilemas, Desafios e Oportunidades” que analisa os estigmas e principais problemas do mesmo.
O ESP teve como premissa inicial uma maior inclusão e oportunidades de estudo mais direcionadas para o mercado de mercado que chegaria a pessoas com menor possibilidade de pagar estudos mais avançados. No momento, Portugal encontra-se no 19º lugar com 45% no relatório intermédio Caracterização do Ensino e Formação Profissional em Portugal, Análise de Dados Secundários – 2015-2019, divulgado em 2020 – um relatório que analisa a percentagem de alunos a frequentar o ESP. Alguns dos países acima da média são: República Checa (73%), a Finlândia (71%), a Croácia e a Áustria (70%), a Holanda e a Eslováquia (69%), a Eslovénia (67%), e a Suíça (65%).
Em comunicado ao Público, o membro do conselho consultivo da Edulog e antigo ministro da Educação, David Justino, referiu que “há muitas escolas com ensino profissional, públicas e privadas, que estão a trabalhar muito bem.” O responsável realçou a necessidade de “as incentivar, dotá-las dos recursos indispensáveis, aprender com elas e divulgar essas experiências bem-sucedidas”, acrescentando a urgência de “criar uma rede de escolas de referência”.
Segundo a Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), de 2020, existem dois grandes diferenciais no ESP: as notas consideravelmente mais baixas em disciplinas estruturais como português ou matemática e as condições socioeconómicas mais desfavoráveis dos alunos. A maioria destes alunos vêm de famílias com escolaridades inferiores e, por vezes, têm parentes que não concluíram a escolaridade obrigatória.
David Justino acredita que a raiz do problema não são os alunos que escolhem este tipo de ensino ou das suas famílias, mas sim a falta de investimento do Estado em recursos financeiros e humanos. “O problema está nas políticas, nas escolas e na qualidade dos cursos, se estas forem melhores todos beneficiarão”, argumentou.
O relatório explica ainda que os alunos do ensino profissional não devem ter estigmas associados pois, “alguns destes estudantes não descuram vantagens do ensino aplicado para a continuação dos estudos, pelos conhecimentos e experiência adquiridos na área pretendida”. De acordo com o documento, existe uma maior percentagem de alunos do ensino profissional no mercado de trabalho relativamente a alunos dos cursos científico-humanísticos.
Quanto a alunos que pretendem seguir o ensino superior, depois do ensino profissional, os especialistas justificam esta decisão pela maior facilidade na “conclusão do secundário, por permitir a obtenção de médias finais mais elevadas”. O relatório reforça, contudo, que são ainda uma grande minoria, apesar das previsões para um gradual aumento.
David Justino sublinhou que “tudo depende do reconhecimento da qualidade e empregabilidade dos cursos”. Acrescentou que “se conseguirmos superar a imagem de uma formação de recurso, veremos crescer o número daqueles que investem no ensino profissional”.