Há 54 anos que junho se cobre de cor. Milhares saem às ruas. As segundas cobertas de discriminação e injustiças. Os primeiros de bandeira na mão ou embrulhada nas costas. A gritar por igualdade com todo o ar que têm nos pulmões. Sem medos, sem preocupações com o que o outro possa dizer ou pensar. No mês em que o orgulho se pinta de colorido, reivindicam-se direitos. De existir e de se expressar, de poder ter qualquer tipo de relação, de ter acesso a cuidados médicos e a políticas sociais protetoras e inclusivas. Protesta-se o direito de, simplesmente, ser.
Viajemos atrás na história. O ano era 1969, já tardava a noite de mais um dia do mês de junho, em Greenwich Village, Nova Iorque. Um bar popular gay foi invadido por agentes da polícia que prenderam e agrediram os que lá se encontravam. Cá fora, uma multidão presenciava (mais uma) brutalidade policial contra os homossexuais. No entanto, bocas não ficaram caladas e olhos não se desviaram perante o que acontecia. Durante uma semana, vários se manifestaram na mesma rua. Uma revolta que deu o pontapé de partida para o movimento dos direitos dos homossexuais.
Há mais de cinco décadas que junho é o mês dedicado à comunidade LGBTQIA+. E é verdade que, também nos restantes meses do ano, se têm assistido a uma progressiva equidade dos que pertencem à comunidade. Foram rejeitadas leis que previam a criminalização das relações não-heterossexuais. É reconhecida, em alguns países, a união entre duas pessoas independentemente da orientação sexual. Existem leis que salvaguardam a autodeterminação da identidade e expressão de género e a proteção das características sexuais de cada pessoa. A opinião pública perante a comunidade LGBTQIA+ tem se tornado, cada vez mais, positiva. Aliás, não é preciso ser gay para se apoiar e também celebrar o mês do orgulho.
Mas e então, se tem havido uma evolução, porquê continuar a ter os 30 dias dedicados à comunidade? Porque “nem tudo nesta vida é um mar de rosas”. E, no que toca a esta luta, ainda há rosas por nascer e outras que picam quando são colhidas.
De Norte a Sul, em fevereiro deste ano, um grupo de jovens foi agredido num bar no Porto, considerado um lugar “seguro” pela comunidade LGBT, mas que não os impediu de serem alvos de comentários homofóbicos e de saírem com o vermelho no corpo. Em 2019, um casal homossexual foi insultado e fisicamente agredido no Terreiro do Paço, em Lisboa.
Um estudo, que saiu em 2022, feito pelo Centro de Psicologia da Universidade do Porto (CPUP), concluiu que “a maioria das pessoas LGBTQ+ jovens em Portugal ainda são vítimas preferenciais de cyberbullying e bulliyng”. Também, em 2021, um relatório da Ordem dos Psicólogos Portugueses verificou que jovens homossexuais ou bissexuais têm uma probabilidade três vezes maior de cometer suicídio.
Em 2020, o Observatório da Discriminação Contra Pessoas LGBTI reportou uma subida de 4% de denúncias referentes a crimes e incidentes de ódio. Em 69 países do mundo é considerado crime ser homossexual. 11 ainda aplicam a pena de morte.
É por estas e por outras que sim, ainda é preciso um mês dedicado à comunidade. Ainda é preciso pintar as ruas e paredes, as redes sociais e publicidades de amarelo, laranja, roxo, azul, vermelho e verde. Ainda são precisos protestos, chamadas de atenção, sensibilizações e revoltas. Ainda é preciso marchar pelo orgulho e pela igualdade de direitos.
Porque ainda faz sentido. Porque a luta só termina quando todos os meses forem de orgulho.