Estudo do observatório Iberifier realça a crise económica dos media portugueses.
A crise dos media portugueses contribui para o fenómeno da desinformação social e agrupa-se em 7 grupos principais. A conclusão é do estudo “Análise do impacto da desinformação na política, economia, sociedade e questões de segurança, modelos de governança e boas práticas: o caso de Espanha e Portugal”, realizado pelo observatório Iberifier.
A principal preocupação face à desinformação é “a situação financeira e vulnerabilidade do ecossistema mediático”, que tem raízes na crise económica de 2008 e se agravou fortemente com a crise pandémica, a partir de 2020. O estudo sublinha que o setor mediático em Portugal “é frágil em termos económicos, profissionais e do estatuto do valor jornalístico, notícias como património coletivo, em particular o económico”. Além disso, aponta os profissionais, audiências e a relação com conteúdo noticioso.
A crise do jornalismo, com a consequência da perda de credibilidade dos profissionais, é, por um lado, resultado “do desinvestimento do público”. Por outro, também do setor profissional pela “crescente politização do debate mediático por parte de comentadores (que não são jornalistas, mas são usados pelos media para criar um clima de permanente disputa)”.
O crescente “surgimento de agressividade na linguagem pública dos novos partidos de extrema-direita (o Chega), com efeitos propagandísticos e radicalização nos medias e redes sociais” é um dos alertas do Iberifier. Reconhece, contudo, que Portugal mantém “uma relativa estabilidade social na ausência de problemas socialmente fraturantes”.
Portugal apresenta campanhas de desinformação sobretudo importadas, verificadas em casos como a COVID-19 e a guerra da Ucrânia, segundo o documento. Contrariando a tendência europeia, é o país em que a corrupção “motiva mais campanhas e ações de manipulação e não a imigração”.
Estes problemas de desinformação são associados à perda de confiança dos meios de informação. Em Espanha, a confiança nos media está nos 13% enquanto em Portugal está nos 40%, segundo o Eurobarómetro Media Trust. O desinteressa nas notícias tem percentual maior entre “os mais pobres e menos educados”, o que resulta na saturação de cobertura de assuntos considerados mais relevantes como a pandemia, guerras ou eleições.
O projeto Iberifier acredita na criação de quatro indicadores para analisar o impacto social da desinformação, sendo o primeiro a disseminação. O indicador forneceria informação do número de vezes em que uma informação errada ou falaciosa foi partilhada nas redes sociais, assim como a repercussão que teve nessas plataformas (partilhas e gostos).
O segundo é a transferibilidade, que visa “medir o efeito que uma informação ou notícia falsa noutros contexto” pode se assumir como “poluição” da esfera pública ou “moldar a agenda dos media tradicionais”. Por outro lado, o consórcio tem como objetivo identificar e caracterizar esses disseminadores de informação através de programas informáticos ou bots que reconheçam um padrão de comportamento que se repete. A sustentabilidade da desinformação é também um dos indicadores, que tem por objetivo avaliar “a evolução de uma determinada informação falsa” através da medição dos seus efeitos por verificadores, no sentido de perceber a propagação noutros países e línguas e o efeito a longo prazo.