É através de sonoridades cativantes e o sotaque de Gondomar que os artistas emergentes no panorama músical português, João Não e Lil Noon, se destacam. “Se Eu Acordar” é o mais recente trabalho da dupla.

A proposta dos dois artistas é fazer com que o ouvinte se sinta num ambiente de sala de karaoke nos anos 90. Os instrumentais transportam para lá. As letras apresentam um toque romântico e o gosto da dupla por artistas portugueses icónicos, como o Marante e Broa de Mel, é evidente. Não é a primeira vez que a dupla colabora num projeto, tendo já lançado em conjunto o álbum “Terra-Mãe” em 2021.

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Pode-se dizer que são o Tony Carreira dos tempos modernos. Logo após a “Intro” chega-nos “Carta de Despedida”. A música aborda as despedidas e separações. Aqui, João Não, fala sobre a dificuldade em dizer adeus a uma pessoa. “Não digas adeus, se os pés com que vais são meus” canta sobre um instrumental envolvente e um autotune sempre presente, quase como se fizesse parte da sua imagem de marca. Segue-se “Poeira”, uma canção romântica. Descrevem o sentimento que lhes despertou “quando a vi à minha beira”. Parece quase a descrição de um sonho tornado realidade.

Coluna Bate o Coração” é a terceira faixa, esta, um pouco mais lenta e calma. Se o final de uma saída à noite fosse um som, seria este sem dúvida. Todo o ambiente junto com as sonoridades refletem isso. A letra também reflete os sentimentos ocorrentes após uma noite onde claramente algo correu mal numa relação. “Já não seguras nesta mão e não me prestas atenção”. Apesar de ter apenas dois minutos e meio,  trinta segundos são de introdução à música homónima do álbum “Se Eu Acordar”. Mas isso não é motivo para a música desapontar, muito pelo contrário. A portugalidade sente-se na letra. “Marcas de filigrana no teu coração”, cantam, fazendo referência à sua terra-natal Gondomar. O sotaque, esse também está sempre presente.

Superstar” já havia sido lançada como single em fevereiro. Sentem-se a voar e pedem para ir com eles para as nuvens. Antecipam a música seguinte “Nas Nuvens” em parceria com Joint One, rapper do Porto. A música serve como uma espécie de continuação da anterior.

Quando Chamas Por Mim” faz-nos sentir num ambiente mais noturno, ainda assim num tom calmo. Extrazen é a parceria escolhida, contrasta com João Não e Lil Noon cantando em inglês. “Purpurina” é uma das favoritas dos ouvintes. Uma música muito habitual ao género que a dupla e Mike El Nite (parceria neste single) estão habituados a produzir. A letra continua muito no estilo das anteriores, num tom sempre romântico. A sonoridade final aluz às discotecas dos anos 80/90. A música é uma das melhores propostas deste álbum.

Este projeto acaba por ser uma ode a Portugal, mais especificamente à zona do Porto, muito distinta pelos seus costumes. A combinação, pouco provável, de letras românticas com sonoridades disco-dançáveis dos anos 80/90 torna o álbum uma miscelânea interessante. Algo que não estamos habituados a ver em artistas portugueses. É uma obra que desafia as expectativas e deixa uma marca ímpar no panorama musical português.