Não foi uma decisão fácil, mas julgo que tomei a decisão certa. Perante um dilema desta dimensão é mais do que adequado dedicar largos minutos a analisar várias hipóteses para mais tarde não surgirem arrependimentos. O dilema a que me refiro tem por nome Barbenheimer que dominou a internet nos últimos tempos.

Este é o fenômeno iniciado pelo fato dos filmes Barbie e Oppenheimer, de gêneros completamente distintos, serem lançados no mesmo dia – 20 de julho nos cinemas portugueses. A escolha não foi fácil, mas acabei por optar por Barbie.

Realizado por Greta Gerwig e protagonizado por Margot Robbie e Ryan Gosling, Barbie é tudo aquilo que estamos à espera, mas também é muito mais que isso. Sim, a longa-metragem tem momentos de comédia tonta, cenas musicais espampanantes e personagens caricatas, mas a verdade é que, no meio deste embrulho, há espaço para a crítica social e momentos de genuína ternura.

A realizadora podia ter cometido o erro fatal de dar mais importância ao estilo e descurar a substância e o lado emocional, mas felizmente tal não acontece. É justo dizer que a longa-metragem tem uma narrativa coesa sem cair no ridículo (apesar do próprio universo do filme ter uma carga de exagero e fantasia) e, apesar do exagero visual, a mensagem do filme resulta e muito bem.

Apesar de tudo, o filme incomodou algumas pessoas, que acusam Greta Gerwig de querer incutir uma certa agenda no público atual. A verdade é que quem critica não percebeu a mensagem do filme que, de modo algum, sugere que o mundo ideal envolve o domínio do poder feminino, pelo contrário. A mensagem da obra reside no equilíbrio e na união de todos os géneros, para que o mundo seja um lugar melhor onde todos sejam aceites e ninguém se sinta oprimido.

Em termos visuais é de estar preparado para uma quantidade excessiva da cor rosa, seja dentro de tela seja no interior do cinema. Barbie é visualmente estonteante e um festim para os apaixonados em cinematografia. Os cenários são plastificados fazendo lembrar as casas de bonecas (o que acaba por fazer sentido). Enquanto que a linguagem visual do filme acompanha o guião divertido e fantasioso, tornando-se bastante imersivo para o espetador que entra de cabeça neste universo.

É necessário falar ainda sobre os dois atores que nasceram para interpretar estes personagens. Margot Robbie está inacreditável no papel da boneca mais famosa do mundo: é engraçada quando tem de ser, mas capaz de transmitir a crise existencial pela qual a personagem está a atravessar.  Ryan Gosling não podia estar melhor. O ator tem mais liberdade para exagerar no personagem e é capaz de arrancar gargalhadas do público: só Gosling é capaz de fazer humor sobre cavalos e não cair no ridículo, para além de ser autor das piadas mais hilariantes da obra.

Barbie é caricato, visualmente exagerado e bastante bem-humorado. Tudo isto alia-se a um roteiro inteligente, que expõe situações atuais e que necessitam de ser discutidas.