O álbum Gag Order da cantora Kesha transporta-nos para um mundo cativante e introspectivo. Lançado em 19 de maio de 2023, é o quinto disco de estúdio da artista e marca o fim de seu contrato com a gravadora Kemosabe.

The Guardian

Diferente de seu álbum anterior, High Road (2020), o som deste novo trabalho afasta-se do pop festeiro, mergulhando numa abordagem experimental, eletrônica e psicodélica. Kesha combina todos os gêneros musicais que aprecia. Em termos líricos, “Gag Order” explora temas mais sombrios, como morte, depressão, exploração emocional, esperança e a batalha pela verdade e pela própria mente.

O álbum concentra-se em superar o trauma decorrente do processo judicial com seu ex-produtor, Dr. Luke. É uma demonstração da resiliência e determinação da artista em enfrentar as suas lutas internas e encontrar força para se recuperar.

A primeira faixa, “Something to Believe In”, é uma poderosa abertura que atinge o coração com uma produção sombria e sintetizadores progressivos, acompanhada por um piano e um coro gospel. Em seguida, temos “Eat The Acid”, o primeiro single da era, que apresenta uma produção exuberante e explora sons New Age e sintetizadores crescentes. A música aborda as realidades cruas do trauma e as suas consequências.

“Fine Line” foi lançada em conjunto com o primeiro single e inicia-se com um arranjo delicado de piano e cordas. Contudo, logo se transforma numa tempestade avassaladora de letras honestas e faladas. A música revela como a busca pela verdade levou Kesha ao limite, mostrando uma evolução artística e pessoal.

Já na faixa “Only Love Can Save Us Now” temos uma montanha-russa musical. A música traz um ritmo pulsante com rap – relembrando os tempos de “Ke$ha”- para além de uma produção de baixo eletrônico com batidas impactantes, alternando com um refrão remetendo ao Gospel. A faixa mostra os diferentes lados da artista, refletindo sobre a vida pessoal e a forma de escrever e produzir antes e depois do álbum Rainbow (2017).

Kesha arrisca-se em diversas direções sonoras ao longo do disco, explorando estilos musicais diferentes. “The Drama” é uma experiência tumultuada de graves pulsantes, onde a cantora demonstra a habilidade de utilizar sintetizadores e batidas eletrônicas experimentais. Um ponto delicado no álbum, é que, embora a inclusão de momentos de gravações de outras pessoas nos interlúdios. E, também de introduções das músicas de acrescente coesão aos assuntos tratados, pode se tornar um pouco cansativo para alguns ouvintes. Porém não se revela num aspecto significativo na experiência geral.

A diversidade musical e lírica do álbum permanece nas restantes faixas. Como em “Living in My Head” é uma amostra de ansiedade e autodesprezo, retratando a luta da artista para se libertar do caos da sua mente. Com uma produção mais introspectiva, a música combina elementos eletrônicos com guitarras suaves, enquanto a voz de Kesha revela vulnerabilidade e sinceridade.

Por outro lado em “Too Far Gone” temos uma quantidade surpreendente de suavidade, quase como uma marcha fúnebre pela pessoa que Kesha costumava ser. A faixa transmite uma sensação emotiva, expressando a sensação de ter ido longe demais para voltar atrás.

Outro destaque do projeto é “All I Need Is You”, uma hipnotizante e psicodélica balada que retrata a busca do apoio de alguém, ou talvez de todos, para lhe dar forças. É um apelo para encontrar conforto e apoio na presença de outra pessoa, enquanto a artista se recupera dos desafios que enfrentou. O álbum encerra-se brilhantemente com a balada “Happy”, repleta de esperança, vulnerabilidade e os vocais mais doces de Kesha até o momento, transmitindo uma sensação reconfortante de otimismo.

Gag Order é um álbum corajoso e introspectivo que reflete o amadurecimento artístico de Kesha. As letras profundas, combinadas com uma produção sonoramente diversificada, proporcionam uma experiência auditiva envolvente. Embora algumas tentativas musicais possam não agradar a todos os ouvintes. a voz da cantora e a capacidade de transmitir emoções autênticas continuam a ser um destaque.

No geral, o disco é uma jornada emocionalmente intensa. Trata-se de uma reflexão da evolução pessoal e artística da cantora ao longo dos anos, abordando lutas internas e experiências após o processo judicial. A produção combina sons novos e progressivos com ondas de euforia, tudo permeado pela voz potente e distorcida de Kesha. As letras são densas ao mesmo tempo que inspiram esperança e amor como forma de superar o sofrimento.

O projeto é, portanto, uma declaração forte e afirmativa de Kesha, que, além de se reafirmar como uma artista versátil e cativante, convida-nos a refletir sobre a complexidade das emoções humanas e o processo contínuo de cura e procura por justiça.