Gazela, lançado em 2011, para além de ser um álbum de estreia, é aquele que, com mestria, cumpre a difícil tarefa de dar a conhecer uma das mais preciosas bandas portuguesas. As dez faixas que compõem o álbum, ilustram, sabiamente, a flexibilidade e a enorme capacidade musical da banda.

Gazela, dos Capitão Fausto, é um álbum de estreia do mais completo que há. Semelhante a uma viagem alucinante de contradições melódicas aprazíveis, de letras envoltas de uma complexidade cativante e ritmos propulsores de uma dança livre e solta. Lançado em 2011, o álbum conta com dez faixas completamente distintas entre si, o que, por si só, transparece a flexibilidade e a enorme capacidade musical da banda. Muitas das músicas que compõem este álbum foram-se tornando conhecidas do público e, por isso, não abdicam de uma presença assídua em concertos e atuações, tanto foi o furor no seio dos grandes adeptos de indie lusitano.

Expresso

A primeira faixa, “Música Fria”, por incrível que pareça, aquece muitos corações. Não fosse o facto da primeira música do álbum, nos inteirar de uma história de amor. E as histórias de amor, tendo um final feliz ou não, têm sempre a capacidade de mexer com o coração. Neste caso, é dado a conhecer um rapaz chamado João, preso a um amor inexistente. Assim, ao longo da faixa, a personagem principal é aconselhada a não mudar a sua maneira de ser por um amor não correspondido, “João, não faças nada que não / Seja da tua convicção /Não há razão”. No fundo, João, tremendamente apaixonado e com os sentimentos à flor da pele, proclama a sua paixão ferverosamente, no entanto, tudo o que recebe em troca, é a rejeição por parte de uma amada desprezível e fria. Em termos gerais, a música apresenta um refrão simples e fresco, que contrasta com o adensar da composição num último verso poderoso e feroz.

Segue-se “Teresa”, a segunda música do álbum, que retrata as tentativas incansáveis do vocalista para conquistar a atenção de uma miúda, a Teresa. O narrador molda-se e tenta ser diferente para se fazer notar, “Tentava ser diferente/A ver se conseguia/A dança que ela queria/Até ao fim do dia”. No final de contas, esta faixa acaba por ser um bilhete convidativo à descoberta de todo o álbum, resumindo, numa só música, os ritmos inusitados e surpreendentes com que os Capitão Fausto são capazes de presentear o seu público.

Já a quarta faixa intitulada “Verdade”, retrata um lado mais filosófico e crítico da banda. A música encara a “verdade” como “uma coisa qualquer”, sendo que esta pode ser adulterada por via de diversas interpretações, isto é, a verdade, neste contexto, é interpretada como algo subjetivo. De facto, segundo o vocalista, não estamos livres de que falsas verdades se insurjam sobre a verdade tal como ela é, “Correm boatos pelo amanhecer sobre aquilo que eu disser”. Chegado o fim da música, o narrador remata “Se a verdade é uma coisa qualquer diga eu o que disser/A verdade é que a verdadenem sempre é verdade/E que o mundo ainda tem de crescer”.

Em entrevista ao site Scream & Yell, a banda reflete sobre a faixa em questão “A canção não fala de uma verdade específica, mas a letra (de Tomás, vocalista e compositor da banda) fala do conceito em si mesmo. Não é uma justeza que existe ou está escondida. Muitas vezes, têm-nos dito que as letras dele são adolescentes e questionam se são propositadas ou não. Normalmente, as estrofes no Capitão Fausto são muito cruas, diretas e simples. De certa forma, ele diz que ainda não somos pessoas com grandes ideias para transmitir ao mundo e não nos queremos aventurar por esses caminhos, porque não temos passados trágicos.”.

“Gazela”, a sexta faixa que dá o nome ao álbum, é um instrumental que exibe, desavergonhadamente, o potencial artístico e técnico-musical da banda. Numa harmonia de sons invulgares, heis que surge uma melodia agradável e relaxante que se alia ao jazz. “Santa Ana”, faixa número sete, é o culminar de sons inusitados e contagiantes. O vocalista confessa estar apaixonado por uma rapariga que o permite perspetivar a vida de outra forma “Ela diz que devo aprender/ As noites simples e o que é ficar/Ela é linda e o seu parecer/Faz-me sentir que é tempo de mudar”. Esta música é um convite irrecusável à dança desenfreada e livre, um misturar de ritmos atrevidos que se unem numa música melodicamente apetecível.

Gazela é um álbum indiscutivelmente delicioso, a sábia fusão de ritmos atribui-lhe caraterísticas particularmente interessantes e bastante agradáveis. A mestria da composição sonora é inigualável, ao passo que, toda a densidade e complexidade da escrita, permitem uma maior qualidade musical.