A Biblioteca da Meia-Noite: nunca é tarde para perseguir um sonho

São raras as ocasiões em que me deparo com um livro que consiga chocar-me logo na primeira frase. A Biblioteca da Meia-Noite é um deles.

Matt Haig, romancista e jornalista inglês, escreveu A Biblioteca da Meia-Noite. Em 2021, a obra é qualificada para o prémio “obra de ficção do ano” pelo British Book Awards transformando-se assim num bestseller internacional alcançando rapidamente os topos das listas de livros mais vendidos em países como o Reino Unido, EUA, Irlanda, Canadá e Alemanha.

DR

A obra relata a história de Nora Seed, uma jovem assombrada pelo que podia ter sido e não é, perseguida pelos seus falhanços, embebida em arrependimentos e afogada em magoas. “Dezanove dias antes de morrer” é a maneira que Matt inicia o seu livro, onde o leitor acompanha a contagem regressiva até à noite em que Nora decide por um fim à sua vida. No entanto, a jovem é surpreendida ao deparar-se com uma biblioteca extensa onde cada livro representa o que poderia ter acontecido na sua vida caso tivesse tomado outras decisões e feito outras escolhas. Antes de chegar à biblioteca, o patamar entre a vida e a morte, a jovem mulher apercebe-se que viveu uma vida repleta de medos, tendo sido o medo que tinha de viver o que impulsionou a sua decisão, pois este transformava os momentos de felicidade que ia tendo num mar de dor.

Nora acreditava que era supérflua para todo o universo e, no ápice do desespero oriundo do confronto entre a sua vida atual e todas as vidas que poderia ter vivido e não viveu, a rapariga compara-se com um buraco negro, uma estrela a morrer, a colapsar para dentro de si mesma. Sentia-se afogada num poço de oportunidades desperdiçadas, como se tivesse vivido meia vida, uma vida de quase conquistas. Nora vivia consumida pelos seus arrependimentos como uma vela quase extinta cuja chama tremula ameaça constantemente extinguir-se para não mais voltar a iluminar o ambiente que outrora brilhava com hipóteses. A biblioteca representa a última oportunidade da rapariga, será ela capaz de aproveitar esta chance ou deixará o seu medo de viver controlá-la uma última vez?

A narrativa da história é bem desenvolvida e aliada à escrita suave mas marcante de Matt proporcionam uma leitura fácil e cativante. O leitor vê-se constantemente envolvido neste clima de entropia que o livro proporciona. Haig controla a narrativa de forma harmoniosa envolvendo impecavelmente o leitor na mentalidade destrutiva de Nora para depois alterar a narrativa na biblioteca enchendo o leitor de sonhos, propósitos e esperança.