Christopher Nolan regressou aos grandes ecrãs com o tão aguardado Oppenheimer. O filme, que se baseia na biografia do “pai” da bomba atómica, J. Robert Oppenheimer, foi recebido com grandes audiências, tal como era expectável.
Com a realização do realizador britânico, o filme conduz o público numa jornada eletrizante. Durante três curtas horas, são entrelaças sequências de ação de tirar o fôlego, muito diálogo e contextualização histórico-política.
É notável a capacidade do realizador em manter o foco do espetador em níveis altos, numa obra que apresenta menos cenas de ação e muito mais diálogo do que o esperado- principalmente quando apresenta explosões de bombas atómicas. Nolan não se deixou levar pela tentação de tornar a obra cinemática numa abusiva utilização da ação das explosões para tornar a visualização mais aliciante. Na verdade, o destaque parece focar-se no dilema moral que assolava o físico e a comunidade científica durante a altura da criação da bomba atómica, até hoje muito debatido.
A ação de Oppenheimer é de tirar o fôlego, mantendo os espectadores na ponta da cadeira do início ao fim. As sequências da explosão da bomba atômica foram capturadas de forma impressionante, proporcionando uma experiência visual incrível.
O áudio da longa merece elogios especiais pelo seu caráter imersivo e evocativo. A banda sonora composta por Ludwig Göransson eleva o filme a outro patamar, combinando perfeitamente com a ação no ecrã e realçando os momentos emocionais e de adrenalina. Cenas como a do primeiro teste da bomba atómica, denominado “Trinity”, são altamente influenciadas pela sonoplastia da banda sonora e dos silêncios. Este é um dos sentimentos que só uma sala de cinema pode entregar, que não consegue ser replicado quando o filme é assistido num computador ou numa televisão. Todos efeitos sonoros são habilmente criados, criando uma paisagem sonora dinâmica que envolve o público completamente na história.
Em termos visuais o filme é um deleite visual que transporta o público para diversos e imaginativos cenários. Cada ambiente é meticulosamente trabalhado, desde paisagens urbanas a cenários mais rurais, proporcionando um espetáculo visual impressionante. As transições de cena são fluídas e contribuem para o ritmo geral do filme, tornando-o numa experiência cinematográfica imersiva e coesa.
Tal como é natural nos filmes de Nolan, a performance do elenco é louvável e os atores parecem ir além do que normalmente fazem sob a influência do realizador. Cillian Murphy consegue representar excecionalmente uma personagem bastante complexa, constantemente rodeada de conflitos externos e pessoais. A lista de atores secundários está repleta de nomes que poderiam ser personagens principais, como Robert Downey Jr, Emily Blunt, Matt Damon ou Florence Pugh. A qualidade da representação no filme é palpável, oferecendo profundidade e coerência à obra.
A realização de Christopher Nolan alcança uma harmoniosa combinação de ação e emoção. É evidente o traço do britânico que, sem deixar o seu caráter futurista, criativo e de grandeza, também implementa uma visão humanista e de introspeção. Não é apenas um filme sobre as questões técnicas e impressionantes da construção e do lançamento de uma bomba atómica. É intencional o foco na questão moral da sua construção, do seu lançamento e das consequências pós-lançamento para a nossa integridade enquanto seres humanos.
Título original: Oppenheimer
Realização: Christopher Nolan
Argumento: Christopher Nolan
Elenco: Cilian Murphy, Emily Blunt, Florence Pugh, Matt Damon, Robert Downey Jr.
Estados Unidos / Reino Unido
2023