Focused, lançado em 2012, é fruto do trabalho assíduo de Richie Campbell que partilha uma viagem rumo à autodescoberta. Em quinze singles, alguns deles partilhados com Ikaya, Turbelence e Anthony B, o artista proclama o amor, a saudade e o sofrimento.

A 3 de dezembro de 2012, Portugal viu-se, novamente, inundado pelos ritmos carismáticos do reggae. Com o lançamento do seu segundo álbum, intitulado Focused, Richie Campbell não desiludiu o seu público mais atento. Trazendo de volta uma deliciosa amostra dos sons jamaicanos. São quinze singles que emanam amor, saudade e até revolta.


A primeira faixa, “That ‘s How We Roll” revelou, desde cedo, ser um enorme êxito que, até aos dias de hoje, marca a carreira do artista. São muitos os fãs que sabem a letra de cor e salteado daquela que é a faixa que redescobre o poder da música. Perspetivando-a como um veículo promotor do bem. Segue-se “Get with you”, onde Richie confessa estar envolto de uma tristeza arrebatadora. Por muito que se esforce, revela-se sempre incapaz de impressionar o seu amor “Cause I’ve got the world in/ My hand/ I just can’t understand/ No matter what I try to do/ It don’t impress you”. Perante tantas desilusões, o artista remata: “That ‘s why I’m a very very very sad man/Yes, I am”.

É assim, que em sequência do estado de amor em que se encontra, surge “Love is an addiction”. A música compara o amor a um vício. Deste modo, assumindo estar dependente dele, o cantor acarreta todos os males que dele podem advir. Ao longo de toda a canção, o artista não cessa de exaltar inúmeras qualidades da sua amada, demonstrando que sofre com a sua ausência. Mas, ainda assim, admite não dar importância ao sofrimento,“This love is an addiction/ But me nah gon’ stop even if it kill me”, pois no final de contas, ela é a sua cura “And your medicine alone can cure me”.

Em quarto lugar, “More than air”, é mais uma declaração da submissão do artista ao amor. A música assemelha-se a uma carta aberta à sua amada, verbalizando entusiasticamente o seu deleite. É com o coração aberto e as emoções à flor da pele que diz precisar dela mais do que ar que respira, mais do que a vida “I need you more than air/ I need you more than life itself”. Disponibiliza-se, portanto, a estar a seu lado para sempre. E sem intenção, faz transparecer aos seus ouvintes, os sentimentos mais puros que sustentam uma verdadeira história de amor.

As quatro primeiras músicas que compõem o álbum são poderosíssimas, guardam em si o reggae refletido nos instrumentos cuidadosamente tocados, e, por sua vez, os versos escondem calorosas histórias sentidas intensamente. A verdade é que o resto do álbum não fica atrás. Assim, no decorrer do reportório musical assiste-se a um desvanecer da euforia e das certezas iniciais em relação ao amor. A crença de que este sempre vencerá acaba por se dissipar, e o acumular de mazelas provocadas pela sua amada torna-se insustentável.

Eis que surge “Gonna leave you”, sétima faixa, que representa um ultimato perante a indiferença da sua apaixonada. Portanto, o artista conforma-se com a possibilidade de a deixar, admitindo haverem mais mulheres que gostariam de estar no seu lugar, “Well if you keep acting like you do/ The space grows between me and you/ Many other girls wanna be in your shoes/And I’m gonna leave you”.

Posteriormente, a música “What a day” ocupa o décimo primeiro lugar do álbum e tanto os versos que a compõem como os acordes que a acompanham emanam positividade e gratidão. Transmitindo a importância de valorizar cada detalhe da vida, como forma de agradecimento. Para terminar em chave de ouro, Richie, através de “Don’t panic”, enaltece todo o seu talento. Tal assemelha-se a uma massagem ao ego que transparece a confiança com que o artista construiu e lançou o álbum.

Focused acompanha uma viagem a bordo do sentimento tão único, mas igualmente cruel que é o amor. Richie Campbell cumpre com mestria essa difícil tarefa. Aborda o deslumbramento inicial, em que o amor se assemelha ao oxigénio necessário para viver. Posteriormente, dá-se o fim dessa cegueira, desmascarando-se as mágoas e os ressentimentos que dão azo a um coração partido. Tudo isto envolto de leveza e musicalidade oferecidas pelos sons inusitados e prazerosos do seu estilo musical.

Este álbum poderia ser um romanceiro, uma coletânea de histórias de amor, mas não o é. Compara-se mais a uma autodescoberta do próprio artista: as paixões, a revolta, os sacrifícios, as críticas à sociedade que vai manifestando ao longo das músicas, a gratidão, a construção do próprio ego – tudo isto é o que o reggae de Richie Campbell esconde.