O dia reflete a importância de criar lugares de partilha e receção seguros a pessoas com tendências suicidas ou famílias de vítimas para suicídio

Comemora-se a 10 de setembro o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. O dia é marcado por tentativas de informar a população sobre as causas e sinais de alerta do Suicídio, e ações de apoio a pessoas psicologicamente transtornadas, que possam verificar um culminar de fatores que as tornem mais vulneráveis a esta questão. O dia foi marcado pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP) em articulação com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O fenómeno do suicídio tem apresentado cada vez mais espaço estatístico entre os jovens e adolescentes. Segundo um artigo da CNN Portugal, lançado em setembro do ano passado, foram registados 952 suicídios em Portugal em 2022 no que se traduz na subida de 8,18% comparativamente ao ano de 2021. Luís Duarte Madeira, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental reportou também ao jornal que 90% de casos de suicídio estão relacionados com episódios depressivos e abuso de substâncias.

Em conversa com o ComUM, Maria João Silva, caloira de ciências da comunicação da Universidade do Minho, expressa aquilo que pensa em relação ao suicídio. Enquanto pessoa que já teve pensamentos e tentativas suicidas afirma que a “mente divide-se e decide que tu já não és merecedor desta vida, o melhor é o suicídio. Nesses momentos, vem a solidão, o desespero, os pensamentos extremamente autodepreciativos e a falta de fé no futuro”.

Maria revela que o seu primeiro pensamento acerca de suicídio foi aos 14 anos. Conta que esses pensamentos são “cheios de realidade, essa que nos esmaga todos os dias. Ao sermos confrontados com uma realidade tão triste, acabam por surgir alternativas como o suicídio”.

A taxa de suicídio tem apresentado índices cada vez mais elevados segundo a OMS. A entrevistada sublinha que “a sociedade está tão poluída e tóxica, que quando paramos para pensar nisso, sobre o quão desesperados, sozinhos e sem qualquer tipo de fé num futuro melhor, sem alguém que aparentemente se importe de verdade, acabamos por perder a restante esperança que existia, cometendo suicídio”. O suicídio revela-se uma alternativa a uma vida melancólica e solitária e torna-se o “conforto” de diversas das vítimas deste fenómeno.

Nesse sentido o apoio externo de familiares e amigos torna-se extremamente importante na luta contra o suicídio. A aluna revela que a ideia de que as pessoas com este tipo de pensamentos não querem ajuda é um mito. “Muitas das vezes, temos medo, vergonha, não queremos incomodar, sentimos que não temos ninguém para desabafar e pedir ajuda”. Continua dizendo que “é muito importante dar espaço, estar presente, mas também fazer perguntas genuínas à pessoa em questão, realizar atividades que outrora traziam felicidade para a vítima” entre outras.

“Vocês não estão sozinhos. Vai haver sempre alguém que vos quer ouvir, que vos quer ver e abraçar. Não há nada de errado convosco, apenas precisam de uma ajuda e não há absolutamente nada de errado com isso”, são algumas das palavras que Maria João deixa para pessoas que possam estar a atravessar situações difíceis.

Rodrigo (nome fictício), aluno de Psicologia da Universidade do Minho que sofreu com pensamentos suicidas, relata em testemunho ao ComUM que “pensamentos suicidas se dividem em duas facetas: a faceta da ação, que é quando tu começas a pensar em como fazê-lo e a faceta da emoção, o que nos  leva a pensar fazê-lo”.

Para Rodrigo, o suicídio torna-se “a solução proibida” para a monotonia diária que se transforma no pensamento, “sinto, por vezes, que estar aqui ou não não faz diferença”. Revela que o seu primeiro pensamento suicida surgiu aos 16 anos ao atravessar situações familiares difíceis. Recorda que o pensamento foi quase instintivo, a olhar pela varanda pensou na possibilidade de cometer contra a sua própria vida. O que o impediu foi a ideia de não querer causar mais sofrimento à família.

Enquanto aluno de psicologia, acredita que perturbações do fórum mental podem transformar-se em fatores decisivos na questão do suicídio, e que podem muitas vezes perpetuar essa ideia. Segundo o aluno, lidar com questões mentais durante o dia dificulta a rotina dessas pessoas, pelo que pensamentos e tentativas de suicídio não se mostram ser realidades surpreendentes. No seu caso particular refere-se ao suicídio como uma forma de “escapar a realidade, ajudam-me a lidar com a depressão diária”.

O entrevistado acredita que com o acompanhamento certo é possível melhorar quadros difíceis que possam envolver pensamentos e tentativas suicidas.  Portugal criou uma campanha que visa desmitificar preconceitos sobre suicídio e as suas vítimas. A Campanha Nacional de Prevenção do Suicídio é uma iniciativa da SNS (Serviço Nacional de Saúde). Os seus principais desafios são “alcançar a população”, “mudar atitudes em relação ao suicídio e à doença mental” e “promover mudanças na sociedade”. As suas intervenções são no registo presencial e online e acontecem normalmente durante o mês de setembro e são mais concisas no dia de prevenção ao suicídio.

O dia de Prevenção do Suicídio mostra-se ser extremamente importante na valorização da saúde mental. Num mundo onde questões como o suicídio e perturbações mentais continuam a ser um taboo, este dia assinala-se como um reforço na importância da valorização e atenção ao outro. O suicídio é das causas mais associadas a mortes prematuras especialmente entre jovens. A mensagem comum deste dia é “não estás sozinho, procura ajuda”.

 

Os contactos nacionais da rede de apoio são: