Abordando as dificuldades de crescer e de criar e manter relações com quem nos rodeia, “Lady Bird” foi o primeiro projeto a solo da diretora do filme “Barbie”, Greta Gerwig.  O filme conta com a representação de nomes como Saiorse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts e Timothée Chalamet.

“Lady Bird” é, primariamente, sobre uma relação entre mãe e filha. Uma história de dois polos aparentemente opostos, mas que partilham a mesma essência. Christine “Lady Bird” McPherson é uma personagem marcada por uma constante luta contra a monotonia e aborrecimento intelectual de Sacramento, onde viveu toda a sua vida. É notória a sua necessidade de ascensão, a nível, por exemplo, do seu estatuto de popularidade e do ambiente e realidade que a rodeiam. Vê na mãe todo o conformismo e rigidez do qual tenta avidamente fugir, tanto física como psicologicamente. Por sua vez, Marion McPherson vê na filha toda a ambição e leviandade da qual teve de abdicar ao longo dos anos para poder cuidar da sua família. O seu sentido prático impede-a de compreender na totalidade as atitudes de Lady Bird, e ambas entram em conflito  por essa mesma recusa de entre aceitação.

No entanto, existe uma dinâmica totalmente diferente entre Christine e o pai. Apesar de, numa primeira conceção, a relação ser muito mais pacífica, é revelado, em análise mais profunda, alguns problemas de comunicação. Larry não se consegue afirmar perante a filha e algumas das suas atitudes, que o incomodam e magoam, e Lady Bird negligência logo à partida que possa sequer ser possível o pai ter esses sentimentos.

Greta Gerwig esmera-se tanto na direção como na argumentação da obra, criando diálogos acessíveis, mas surpreendentemente profundos para a simplicidade que demonstram. A diretora escreve com um tom extremamente suave e nostálgico, para além de nuances humorísticas e honestas, quase subentendidas. Consegue transparecer todas as particularidades das personagens, em especial da personalidade decididamente forte da protagonista.

Sob a influência da lente de 35mm, que realça a textura da imagem, a longa dá a sensação de ser uma gravação antiga, reforçando o fim da década de 90/ inícios dos anos 2000, onde o filme está incorporado temporalmente. Realça também a atmosfera quente californiana, onde está incorporada espacialmente. Há muita atenção aos detalhes, de forma a retratarem, de forma intocável, a época em que a obra se insere. Desde objetos a costumes e vestuário à própria banda sonora,  a sensação de intemporalidade ao filme encontra-se bastante presente.

Lady Bird” não teria sido o sucesso aclamado que foi senão pelo brilhantismo do elenco escolhido. Saiorse Ronan inicia no filme a sua primeira de muitas parcerias com a diretora, e entrega uma performance brutalmente cândida e impactante, com a destreza humorística que exige a personagem. Laurie Metcalf merece esse mesmo crédito, atingindo a excelência da pureza da representação por si só e, especialmente, nas cenas com Ronan. Timothée Chalamet, que teve uma das suas primeiras estreias de representação no projeto, traz tanto a sua persuasão e carisma como distância intelectual e emocional para a tela. Tracy Letts abraça a sua personagem com uma doçura e  conforto inigualáveis, e Beanie Feldstein, melhor amiga de Christine, traz o comic relief perfeito para a obra. É de grande importância também mencionar a prestação de Lucas Henges (Danny), pela maneira comovente como aborda as dificuldades da luta LGBT na década onde se insere a longa.

Greta Gerwig tem, enquanto diretora, a habilidade rara de fazer com que qualquer história que dirija pareça íntima ao público, desde um clássico histórico como Little Women até à sua mais recente interpretação de Barbie. Com Lady Bird, podemos assistir ao nascimento de uma estrela, em que, muito à semelhança da personagem principal, retrata uma narrativa muito próxima da realidade de Gerwig:a busca de algo que a possa levar a muito mais vastos horizontes.