Após o sucesso de “ASTROWORLD” em 2018, Travis Scott lançou o seu projeto mais aguardado até hoje: UTOPIA. Após cinco longos anos de espera, muitos julgavam que o projeto não passaria de um rumor. Contudo, o mesmo acabou por ser lançado a 28 de julho de 2023, juntamente com o filme “CIRCUS MAXIMUS”, produzido pelo rapper.

Billboard

No começo da primeira faixa do LP, “HYAENA”, temos uma sample do segundo verso da música “Proclamation”, da banda britânica Gentle Giant. O verso aqui apresentado demonstra a perspectiva de um rei que se dirige ao seu povo e fala do estado do seu reinado, e como ele tem o poder máximo a ser respeitado. Travis parece, desta forma, dirigir-se ao cenário atual do hip-hop, referindo que este o álbum ditará o futuro do género musical.

Nesta música, o rapper norte-americano também dá a entender que tomará riscos e apostará em novos sons. Desta forma, não estagna o seu próprio estilo, mostrando que não jogará pelo seguro ao apenas fazer álbuns comerciais. Versos como “We took ‘em 35 to 1 like this shit roulette” mostram que ele arriscará alto e que, se correr bem, a recompensa será maior- como apostar num número vencedor numa roleta, cujo o pagamento é de 35 para 1.

Em “MY EYES” temos uma primeira parte bastante calma e pacífica. O uso dos efeitos na voz de Travis, juntamente com o instrumental e voz de Bon Iver proporcionam uma sensação de sonho. Sampha também aparece nesta faixa, acrescentando mais tranquilidade a esta primeira parte da música.

O ponto alto da canção vem na transição da primeira para a segunda parte. A troca de batida dá a sensação de que algo grandioso acontecerá. Porém não ocorre de imediato- é uma troca gradual, que eventualmente nos leva a um Scott que estamos mais familiarizados. Nesta segunda parte entramos na cabeça do rapper, que nos fala dos incidentes do festival ASTROWORLD, organizado pelo próprio, em 2021, onde morreram dez fãs, 25 foram hospitalizados e mais de 300 ficaram com ferimentos leves.

Travis demonstra arrependimento, referindo que pensa várias vezes no que aconteceu naquela noite, e como gostava de poder ter feito algo para evitar as consequências.  O artista também pode estar a referir-se a estes eventos em “PARASAIL”, com o comediante Dave Chappelle a narrar os seguintes versos: “I forgive myself, I forgive myself / I choose to feel good, I choose to feel free / I will fight for everything I love, forever / And I will love everything that I fight for, forever”.

A presença de Playboi Carti em “FE!N” foi uma surpresa agradável, mas a maior surpresa da faixa foi a troca de papeis dos rappers. A voz aguda, normalmente associada a Carti, é a de Travis Scott e a voz mais grave é de Playboi Carti. Uma versão diferente da música foi apresentada no filme “CIRCUS MAXIMUS”, que contêm versos diferentes de Carti e uma parte adicional do rapper norte-americano Sheck Wes, que acabou por ser removido da música e apenas se manteve nos ad-libs. 

UTOPIA é um álbum diferente e extravagante. Travis Scott apresentou-se como um artista que quer ser versátil, que quer inovar e não ficar estagnado no panorama comercial. De uma certa forma, pode-se dizer que a sua derrota nos Grammys de 2019 com ASTROWORLD foi o principal impulsionador da criação deste álbum- um mal que veio por bem.

Apesar de UTOPIA e ASTROWORLD serem dois projetos únicos à sua maneira, é possível afirmar que o rapper norte-americano conseguiu elevar a fasquia e superar as expectativas. Olhamos agora em frente, na esperança de ver as novas formas de Travis Scott em superar e inovar a sua sonoridade.