Vandalismo a edifícios históricos e a obras de arte tem voltado a ser assunto da ordem do dia, nas últimas semanas, pela Europa. Aquelas que dizem ser manifestações pelo clima, parecem estar a tornar-se manifestações contra a arte, contra a cultura, contra a História, desviando-se do seu propósito.
As lutas pelo clima têm saído à rua, regularmente, na tentativa de alertar para a mudança de estilo de vida, de escolhas, e mais do que isso, para que políticas sejam alteradas, a favor de manter um planeta saudável. Uma luta que devia ser de todos perde o respeito pela forma como alguns a decidem radicalizar, cujos valores parecem querer alterar e acabam mesmo por ridicularizar.
Em Londres, no ano passado, na National Gallery, foram atiradas latas de sopa de tomate à pintura “Girassóis” de Van Gogh. Em Berlim, no mês passado, um grupo de ativistas pulverizou as colunas do Portão de Brandemburgo. E, mais recentemente, em Portugal, no CCB, em Belém, o quadro de Picasso foi coberto de tinta vermelha. Tudo isto em prol do ambiente.
A verdade é que estes movimentos chamam à atenção. Mas é deste tipo de atenção que a luta climática precisa? Precisa de escândalos em que as palavras em prol da sustentabilidade nem são ouvidas? Estes atos representam a luta? Estas ações descredibilizam o movimento, confundem prioridades e o único espaço que têm para expressar os seus pontos de vista é enquanto esperam a vinda dos seguranças.
O património cultural deve ser preservado. Trata-se da materialização da História, representa a sociedade, as suas lutas, desafios, vivências e a sua identidade. São o retrato do passado, a representação do presente e o espelho do futuro. Quer seja arquitetura, pintura, escultura, música, teatro, ou qualquer outra forma de expressão artística.
Mesmo que as obras de arte nunca tenham sido efetivamente destruídas, o foco está no local errado. A luta quer chegar, principalmente, aos políticos, e não é dentro de um museu que vai chegar. A luta quer chegar às indústrias poluentes, entre elas empresas petrolíferas, mas os seus CEOs continuam sentados nos seus escritórios enquanto estas manifestações acontecem e desmerecem a arte. De pouco serve.
A arte deve ser usada a favor da causa. Fazendo parte das manifestações, usada para passar informação, como forma de protesto, e não ser vista como algo descartável, que pode ser manipulada e vandalizada para tentar passar uma mensagem, pagando por algo que de nada lhe diz respeito. A cultura é das melhores formas de reação, permitindo que as pessoas se possam exprimir, ajudando a formar espírito coletivo, unindo pela causa. A arte dissemina a mensagem.
Desde há muito tempo que a arte está associada à mudança. Embora muitas vezes vista apenas como decoração ou como entretenimento, a arte sempre teve o objetivo de expressar pensamentos e reações, comunicar ideias. A música, a pintura, o cinema ou o teatro sempre estiveram presentes em momentos de mudança da História e sempre contribuíram em favor de causas e da mudança.
O movimento Climáximo, responsável pela cobertura da obra de Picasso com tinta no CCB afirma que “não há arte num planeta morto”. Pelo contrário, a arte deve contribuir para que o planeta viva. A arte é ativismo, a arte é reação.