Mayada, Filha do Iraque é uma trágica história verídica, capaz de comover até o coração mais frio. Com o relato da própria Mayada, retrata com mestria o sofrimento de centenas de iraquianos que viveram sobre a opressão de Saddam Hussein.

Jean Sasson, autora desta obra, possui um vasto conhecimento sobre o Médio Oriente, que já foi o seu lar por mais de uma década. Devido a isto, é inquestionável a autoridade que esta formidável escritora tem sobre os variáveis temas sobre a região.

Jean Sasson | Gulf News

Este livro começa com uma viagem ao Iraque realizada por Sasson, que a leva a conhecer Mayada – uma iraquiana proveniente de uma prestigiosa família. E é com esta mais recente amizade que Jean presencia uma das histórias mais desoladoras alguma vez contada.

Mayada, durante o mandato de Saddam Hussein foi injustamente acusada de imprimir propaganda antigovernamental. Assim, como da noite para o dia, a vida dela sofre uma grande mudança ao ser presa pela polícia secreta iraquiana.

É na pequena cela 52 que a protagonista conhece as chamadas “mulheres sombras”. Ao longo da obra são dadas a conhecer as histórias de algumas delas. Histórias que não passam indiferente a nenhum leitor, não apenas pela dor que carregam, mas especialmente, por serem a biografia de alguém que realmente existiu. Mas se o passado de cada reclusa não fosse já bastante comovente, o que presenciam naquela prisão faz questionar a verdadeira natureza do ser humano.

Mayada Al-Askari  | Gulf News

Como meio de obterem uma confissão pelos crimes cometidos, ou mesmo os que não cometeram, a polícia usava métodos de tortura para fazer com que os reclusos falassem. Desde a choques elétricos, violações, arrancamento de unhas até a chicoteadas que rasgavam quase toda a pele do corpo. Estes atos desumanos e abomináveis faziam parte da rotina diária destas mulheres.

Depois desta leitura, o sentimento de revolta e de indignação de certeza se fez presente em todo o leitor. Revolta pelo que milhares de iraquianos tiveram de passar, pois apesar de amarem a sua nação, não conseguiam tolerar quem os liderava. Mas apesar da obra ser uma biografia, a autora conseguiu relatar todos os factos de uma forma cativante, não tornando o conteúdo maçudo nem desinteressante.

Assim, percebemos que este livro deixa inúmeras mensagens. Uma das maiores, é que, infelizmente, a realidade consegue ser muito mais sombria e aterrorizante que qualquer história de terror alguma vez contada.

“(…) era mais penoso escutar as torturas a que eram sujeitos os seus companheiros do que ser torturado. Mayada compreendia agora o que ele quisera dizer.”