A nutricionista Tânia Neves partilha a complexidade da boa alimentação e os problemas que nascem com a falta dela.

Esta segunda-feira, 16 de outubro, celebra-se o Dia Mundial Da Alimentação. Este dia avança para a 43ª celebração e foi criado para relembrar a origem, em 1945, da FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação.

Há uma ideia geral de que um estilo de vida saudável deve estar intrinsecamente associado a comer bem. No entanto, há outros fatores e aspetos essenciais que vão além da simples dieta mediterrânea.

Em entrevista ao ComUM, a nutricionista Tânia Neto refere que possuir um estilo de vida saudável é dispor de “um conjunto de rotinas que promovem tanto a saúde física como a saúde mental, social e psicológica”. A acrescentar à alimentação, que é um ponto chave para alcançarmos um estilo de vida saudável, a especialista salienta a prática de exercício físico, vista como “um grande e importante aliado” deste estilo.

A saúde mental é também um assunto “tabu” da sociedade. A profissional de saúde defende que esta problemática “pode ter influência nas escolhas alimentares e gestão da alimentação”. Acrescenta que o estado débil da saúde está conectado a uma vontade de ingerir alimentos que satisfaçam o prazer e tragam conforto emocional. Tânia Neto refere que uma pessoa pode “manifestar maior procura por alimentos altamente palatáveis, ricos em açúcar e gorduras”.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a obesidade como uma acumulação anormal ou excessiva de gordura corporal que pode atingir graus elevados capazes de afetar a saúde. De acordo com o Diário de Notícias, em Portugal prevê-se que, até 2035, 39% dos adultos portugueses sejam obesos. Segundo a especialista, a origem desta doença multifatorial será “bastante complexa” com fatores como a herança familiar ou fatores a níveis ambientais e sociais. Esta adversidade torna-se irreversível quando surgem “confortabilidades”.

Relativamente à sua recuperação, o paciente necessita de aprender a maneira certa de gerir a sua alimentação, alterando os maus hábitos por práticas que promovem uma boa saúde. Para a nutricionista, “aprender sobre nutrição e alimentação é essencial” e o especialista tem o papel de ceder ferramentas para que essa aprendizagem seja correta. A autoestima também pode ser bastante afetada, “o evitar ver-se ao espelho, esconder o corpo com roupas largas e ter repulsa do próprio corpo pode levar a um isolamento social”, acrescenta Tânia Neto.

Para a especialista, estes aspetos são confessados pelos pacientes, acabando por serem os principais motivos de procura de ajuda profissional. Tudo isto se engloba na vontade de perder peso, que se reflete nas várias fases de emagrecimento e motiva o doente a continuar o tratamento. Relativamente ao papel do nutricionista no processo, a médica realça a sua importância, uma vez que “é o profissional de saúde capacitado e habilitado para prestar este cuidado, visando sempre a saúde através de uma alimentação saudável, equilibrada e variada”. Esta é ajustada às necessidades, gostos e rotinas de cada individuo, “criando estratégias práticas para gerir as dificuldades que cada individuo possa encontrar”.

Contrariamente, a anorexia tem poucos dados estatísticos sobre a sua evolução. De acordo com o Jornal Expresso, “entre 5% a 10% dos doentes morrem, uns devido a complicações médicas graves, por estarem subnutridos, outros porque se suicidam”.  Aborda ainda que vários profissionais de saúde que atuam nesta área têm verificado um aumento no número de casos. Já a SIC aponta que esta falta de dados sobre a anorexia em Portugal “preocupa especialistas”. Revela, porém, que por cada 10 mulheres anoréxicas existe uma vítima do sexo masculino. A doença é mais letal nos jovens, uma questão que enche de apreensões os especialistas.

Relativamente aos pedidos de ajuda, a nutricionista Tânia Neto menciona que, quando falamos de adultos, costumam ser “os próprios a tomar iniciativa e isso é fundamental”. No que diz respeito às crianças e adolescentes, “são os pais que costumam recorrer à consulta de nutrição”, sendo estes “muitas vezes encaminhados por outro profissional (médico de família, enfermeiro ou educador de infância) quando percecionam indicadores de que é necessária uma avaliação nutricional profissional”, confessa.

Neste dia, Tânia Neto “gostaria de dar ênfase à importância que é o acesso a uma alimentação saudável e a alimentos de boa qualidade nutricional”. A nutricionista considera um fator determinante para que se possa “promover a saúde em toda a população”. Conclui que “é fundamental que toda a gente, independentemente da sua situação económica, deva ter acesso a alimentos nutritivos e de boa qualidade”, transformando assim a alimentação saudável “numa opção e não uma regalia.”.