A escola, que deve ser um lugar de partilha de conhecimento e comunidade, para muitos é um espaço de insegurança.
Esta sexta-feira, 20 de outubro, comemora-se o Dia Mundial De Combate ao Bullying. Alguns dos principais desafios colocados por esta data passam por consciencializar a população mundial, promover iniciativas de prevenção e apoiar e incentivar vítimas a denunciar agressões.
Em Portugal, projetos como “Escola Sem Bullying | Escola Sem Violência” e o programa “Escola Segura” procuram educar alunos, encarregados de educação, docentes, não docentes e vigilantes para este problema.
Estas ações demonstram-se eficazes, com uma tendência de descida constante de agressões físicas registadas. No entanto, há uma subida gradual de injúrias e ameaças. Uma análise especializada da PSP revela que as vítimas e a comunidade educativa reagem antecipadamente a estes casos, na grande maioria, prevenindo agressão física.
Em conversa com o ComUM, Luísa (25 anos, nome fictício), estudante de Ciências da Comunicação na Universidade Do Minho, fala-nos da sua experiência enquanto vítima de bullying. Começou quando tinha apenas 13 anos, “ir para a escola era um um tormento, era humilhada todos os dias por coisas que não conseguia controlar” afirma. “Era agredida fisicamente, espalhavam rumores, falavam de mim nas redes sociais e não havia nada que eu pudesse fazer para que parassem”, estas agressões físicas e psicológicas que duraram 3 anos “deixaram marcas” na sua auto estima”.
Este tipo de violência, quer seja física, verbal ou psicológica, numa fase da vida em que o sentido de identidade e de individualidade ainda não está totalmente formado, tem consequências tanto no momento, como a longo prazo.
Crianças que são frequentemente vitimas de bullying são três vezes mais propensas a sentirem-se excluídas do meio escolar. Têm também uma probabilidade duas vezes maior de sentir solidão intensa, sofrer de insónias e alteração de sono e de considerar o suicídio, afirma um estudo da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Luísa refere ainda que, apesar de já ter sofrido bullying há bastante tempo, é algo que ainda afeta o seu dia-a-dia. “Não consigo ser vulnerável e tenho dificuldade em confiar nas pessoas”, “não consigo acreditar que alguém realmente goste de mim”. Problemas de saúde mental são prevalentes entre vítimas de bullying, a estudante foi diagnosticada com “ansiedade generalizada” e salienta a importância da ajuda psicológica. Refere que faz terapia e toma medicação, observando “mudanças significativas” na sua vida e “na forma como encaro as coisas”.
Luísa acrescenta que “o bullying era visto como algo normal, algo que fazia parte do crescimento.” Isto causou um sentimento de medo e receio, levando a que a estudante não denunciasse. As agressões só terminaram quando já tinha 16 anos, quando mudou de escola e se rodeou de amigos, mas refere que criou “muralhas” e se tornou “mais fria”.
Um estudo, realizado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e que contou com a participação de jovens entre os 12 e os 18 anos, concluiu que 68% dos adolescentes portugueses já foi vítima de agressões físicas e/ou verbais por parte de colegas em contexto escolar. A agressão mais prevalente é a psicológica, afetando 92% dos alunos inquiridos, e em segundo lugar a violência física, afetando 82%.
Características físicas e emocionais como ser mais baixo ou alto que os colegas, vestir-se de forma diferenciada, ser de etnia ou nacionalidade diferente, timidez e insegurança continuam a ser apontados, pela APAV (Associação Portuguesa de Apoio À Vítima), como os principais fatores de risco para ser vítima de bullying.
Num lugar como as escolas onde a educação, a formação e a socialização deveriam ser o foco, é essencial que exista um sentido de segurança e comunidade. Enquanto não for um dado adquirido, este dia é imprescindível. A denúncia é fundamental.
Os contactos de apoio nacionais, gratuitos:
APAV: 707 200 077 ( Segunda a Sexta das 10h00-13h00 e das 14h00-17h00).
Linha SOS Bullying: 808 962 006 ( Segunda a Sexta das 11h00-12h30 e das 18h30-20h00).