O novo e 50° filme de Woody Allen estreou na última quinta, dia 6, nos cinemas portugueses. Mesmo com os protestos no seu lançamento em Veneza, o filme não deixou de ser aplaudido durante 5 minutos no festival.

Atualmente o diretor, com seus 87 anos, possui uma reputação polêmica na media-  contudo, a qualidade do seu último trabalho não pode ser contestada. O thriller inicia-se com o encontro acidental entre dois colegas de infância, no qual Alain (Niels Schneider) admite a Fanny (Lou de Laâge) que ela foi o seu primeiro amor. Esse acontecimento provocado pelo acaso irá mudar o rumo do casamento de Fanny com seu marido Jean (Melvil Poupaud), um sujeito muito rico e completamente apaixonado pela esposa.

No entanto, o ambiente de amor e a traição servem apenas como base para introduzir uma reflexão sobre a “sorte”. Ao interligar todos os eventos da trama, a sorte pode ser considerada um dos personagens principais, no meio de um elenco muito competente.

Narra-se, portanto, uma história clássica de adultério, mas que fora executada de maneira singular. A originalidade da obra também está intrinsecamente ligada à sua banda sonora, que ao mesmo tempo conduz o ritmo cômico e ácido da projeção. Dessa forma, outra dinâmica visual é introduzida ao som de Jazz dos anos 60, que proporciona um desconforto físico no espectador.

 

O cineasta americano mostra-se um entusiasta pelo cinema e cultura europeia. Já homenageou a outras cidades, como Roma (“Para Roma, com amor”) e Barcelona (“Vicky Cristina Barcelona”) e retorna a Paris para produzir “Golpe de Sorte”, filmado inteiramente em francês. Contudo, diferente de “Meia Noite em Paris”, as ruas cenográficas, clássicas e românticas da capital francesa ganham outro tom no clima de outono, o que envolve uma trama mais fria e melodramática. Neste sentido, a escolha de tonalidades contrastantes de amarelo e azul reúne o equilíbrio inteligente entre o cómico e o horror.

 As cenas finais esclarecem qualquer dúvida quanto à essência do longa. Numa breve sequência de planos em paralelo foi possível tirar gargalhadas de um público tenso à espera de uma atrocidade. A sorte foi do espectador que pode sair aliviado da sala de cinema.

Em entrevistas para jornais portugueses, Woody Allen comenta que este é o seu último trabalho, dada a falta de financiamento e uma certa exaustão por parte do diretor em lidar com o mercado mediático.  De facto, a sua contribuição para o cinema americano já conta com quatro Oscars e 24 nomeações. O talento vem dos 50 anos de experiência, mas a sorte nem sempre anda junto. Com filmes deliciosos e outros nem tanto, Allen encerra habilidosamente a sua carreira com uma última homenagem ao cinema francês.