TIMBRE, o mais recente álbum de estúdio de Salvador Sobral, composto por onze distintas faixas, é muito mais que um novo disco. É a redescoberta do vigor de uma voz que tanto honrou os portugueses, é o amor em forma de música, é a vontade intensa de imergir num mundo utópico onde somos conduzidos pela ternurenta e tão conhecida voz de Salvador Sobral.

Expresso

O álbum, lançado no final de setembro, conta com diversas parcerias, entre elas Luísa Sobral, Silvana Estrada, Barbara Pravi e Jorge Drexler. Para apimentar todo o rico conteúdo que recheia o álbum (como se o talento brutal do intérprete por si só não o fizesse), o artista dá a conhecer várias performances em espanhol e em francês.

Em “amor a capela”, o artista dá palco à sua magnífica voz, fazendo dela o centro da música. Não se sente a falta de uma guitarra, de uma bateria, de um piano até. A poderosa maneira como controla a sua voz é capaz de encher de espetacularidade aquela que é a primeira música do álbum. O pequeno poema em forma cantada, que não excede os onze versos, exalta o que um verdadeiro coração apaixonado sente. O intérprete assume-se rendido ao amor e manifesta o conforto que é amar e ser amado, “No llego a casa, si no te veo”.

Segue-se “porque canto”, e, novamente, Salvador fala-nos do amor que lhe preenche a vida, neste caso, a música, rematando, “Tenho no canto a vida, e na morte a inspiração/Tenho a vida no canto, e a sorte de sentir paixão”. Para além de uma letra cativante e bastante inusitada, o ritmo que a acompanha é animado, contrastando com a leveza e a sobriedade da primeira música. Seguidamente, na terceira música do álbum, “a distância não é lugar”, o artista partilha a voz com a sua irmã, Luísa Sobral, para contar a história de um amor sedento pela mudança, desgastado por força das mesmas rotinas, que apesar de não terem arruinado o amor em si, tornaram-no insuficiente (“O que sinto, não mudou…Só tenho saudades de outra vida/ A de antes de te conhecer”).

Analisando a sexta faixa do álbum intitulada “de la mano de tu voz”, o intérprete, em conjunto com Silvana Estrada, retrata o poder da voz de quem ama, desvendando a paixão que carrega no peito, “De la mano de tu voz, he encontrado mi camino /He sentido la pasión y el dolor al mismo tiempo”. “pedra quente” vem aquecer a alma até dos ouvintes mais tímidos, convidando-os incessantemente a dançar e a sentir o ritmo envolvente da sétima faixa. É num tom animado e contagiante, que o artista recorda saudosamente a sua infância, confessando numa entrevista dada à M80: “É uma nostalgia de infância, esse descuido, sem estar a pensar nas consequências”.

A última faixa, “al llegar”, protagonizada junto de Jorge Drexler é a materialização de um sonho já antigo de Salvador Sobral. Não contendo o entusiasmo face à sua concretização assumiu também à M80: “Mais um sonho realizado, mais uma validação enquanto artista ter o Drexler a cantar no meu disco.”

Por fim, o artista deu a conhecer as razões que o levaram a lançar o seu novo projeto: “A primeira, talvez mais óbvia, é porque antes de tudo nesta vida eu sou cantor, um intérprete e aquilo que mais me define e distingue é a minha voz, o meu timbre. A segunda razão é o facto de me interessar o conceito de timbre enquanto cor, a cor da voz, a cor dos instrumentos. E há uma terceira motivação para o nome do disco. É que timbre é igual em muitas línguas latinas e germânicas. Escreve-se igual e significa o mesmo. Parece que o conceito de TIMBRE é universal e põe-nos a todos de acordo.”

TIMBRE é um álbum que cumpre bem o seu propósito, é a fusão do otimismo com o amor, é a urgência em dar a conhecer uma voz outrora ouvida, e compreender tudo o que isso acarreta. Este novo projeto não deixa de ser uma montanha-russa de ritmos e géneros musicais, onde o público é conduzido por vozes intensas e viscerais que acompanham solos inéditos de guitarra, piano, ou até de baixo.