Com o passar dos anos, Portugal envelhece mais rapidamente do que rejuvenesce e a faixa etária mais avançada ganha peso.
No dia 28 de outubro destacou-se o Dia Mundial da Terceira Idade. Criado com o intuito de alertar para a situação económica e social desta faixa etária, tenta evitar ao máximo deixá-la cair no esquecimento e no isolamento.
Projetos como “Pedalar Sem Idade”, “Palhaços d’Opital” e “55+” são iniciativas que a Fundação Ageas tem vindo a apoiar. Procura mitigar a solidão muitas vezes sentida e promover o envelhecimento ativo, assim como o aperfeiçoamento da rede de apoio ao cuidador.
Portugal registou um aumento de 20,6% no número de pessoas com 65 anos ou mais, nos últimos 10 anos. Em 2050, estima-se que um em cada dois portugueses tenham 55 ou mais anos. Segundo dados da Eurostat Portugal, o país será um dos países da União Europeia com maior percentagem de idosos e menor percentagem de população ativa. Isto torna-se um desafio, tanto a nível demográfico como económico.
É recorrente encarar o envelhecimento de forma negativa, levando à sua negação através de tratamentos, produtos e intervenções estéticas para o retardar. Deve-se ao preconceito da idade (ou idadismo), sendo a terceira causa de discriminação mais comum no mundo. Este tipo de atitudes agrava a saúde física e mental, desacelera a recuperação de doenças e pode levar ao isolamento social.
Em entrevista ao ComUM, Lucília, diretora técnica do Lar D. Pedro V em Braga, utiliza a palavra “hotel” em vez de “lar”, considerando que os residentes têm liberdade para fazerem as suas atividades exteriores a este espaço. Refere que os utentes realizam diversas atividades para os tornar mais ágeis e introduzem no seu relacionamento as crianças. A responsável salienta que o lar não deve ser visto exclusivamente desta forma, mas também como uma creche/escola.
Lucília liga a frequência no lar de grande parte dos utentes à “preocupação” dos familiares. Acrescenta que, por vezes, as casas “não têm a capacidade de fornecer os devidos cuidados” e torna-se uma melhor opção colocar os idosos neste estabelecimento. A responsável acredita ser “um sítio onde a qualidade de vida se mantém a mesma e pode até melhorar”.
Débora Morais, com 33 anos e licenciada em fisioterapia, é cuidadora no referido lar. Admite ser uma profissão que exige alguma aptidão, mas que a executa todos os dias com bastante agrado. “A minha hora de sair é as 16h, mas acabo sempre for ficar até 17h30 ou 18h”. Salienta que, por vezes, nem dá pelo tempo a passar.
Devido à quantidade de horas que dá pelo serviço, acaba por criar uma relação mais próxima com os utentes, identificando com facilidade quando alguém está mais em baixo. Realça a importância de não cuidar apenas, mas também o convívio e o diálogo. “Temos de ter consciência de que eles são, acima de tudo, pessoas.” Débora refere que na maior parte das vezes, preferem “sentar-se e falar conosco”.
Ao trocar ideias com Adriano Campos, utente de 86 anos que tomou a decisão de ir para o lar com a mulher (que sofre de Alzheimer), é fácil perceber que a idade é só um número. Afirma sentir-se valorizado e, apesar da sua família estar maioritariamente fora de Braga, é costume receber visitas, não se sentindo esquecido.
Relativamente a arrependimentos, refere não ter nenhum. “Na vida, um homem, com letra grande, deverá fazer três coisas: plantar uma Árvore (plantei imensas), ter um filho (tive dois) e escrever um livro (ando a escrever “As Minhas Memórias”).” Sente que fez tudo e não há nada ou quase nada que seja um peso para a sua consciência.
Esta celebração visa relembrar que os idosos não são exclusivamente sinónimos de fragilidade, inutilidade e “pedra no sapato”. São vistos por muitos como parte fundamental e estrutural da sociedade, vistos como “raízes” da nossa população e como um “riquíssimo reservatório de conhecimento e sabedoria”.