Parte de uma coleção de quatro curtas-metragens baseadas nos contos de Roald Dahl, The Wonderful Story of Henry Sugar chega à Netflix pelas mãos de Wes Anderson. A proeza de transpor a magia do autor britânico para os ecrãs de milhares de espetadores ao redor do mundo é conseguida.

Este conto da autoria de Roald Dahl, com contornos fantasiosos, só podia ter sido adaptado pelo já de si fantasioso e excêntrico Wes Anderson. Semelhante a uma peça de teatro, o realizador americano abraça por completo tudo aquilo pelo qual é criticado. Por consequência, o produto final é uma junção de todos os elementos que cimentam Wes Anderson como um génio criativo.

Acusado de ser superficial e de dar preferência ao estilo ao invés da substância, é impossível negar o génio por detrás das obras de Anderson. A sua capacidade de criar universos é de uma criatividade impressionante.

O filme é nos apresentado com uma narração fria, mas acelerada. A voz pertence a Ralph Fiennes, que apresenta o personagem principal. Henry Sugar, interpretado por Benedict Cumberbatch, é um homem rico e egoísta, que descobre um livro capaz de mudar a sua vida. O livro relata a história de um homem capaz de ver de olhos fechados, aparentemente algo que não desperta muita curiosidade. Porém, Henry decide que irá aprender a dominar este dom para ganhar quantias avultadas de dinheiro em casinos. A partir deste momento está aberto um mundo de possibilidades, que serão exploradas de todas as formas possíveis e inimagináveis.

Existem várias maneiras de contar uma história, uma quantidade absoluta de artifícios que podem ser utilizados como apoio à narrativa. Nesta história são utilizados vários, sendo o mais notável o de contar esta história como se de uma peça de teatro se tratasse. Existem mudanças de cenários, a falta de necessidade de disfarçar os bastidores e a repetição de atores para múltiplos personagens. E de modo algum isto atrapalha a experiência do espetador que, desde logo percebe aquilo que o espera e compreende as regras deste universo criado pelo realizador. Tudo é planeado para introduzir, da melhor forma, este conceito a quem está a ver o filme. Não só a realização, mas os próprios atores compreenderam o conceito e levam-no até ao limite. A interpretação dos artistas é feita num tom monocórdico, frio e seco, mas que combina com o tom da curta-metragem e nunca parece forçado.

Ao dizer que utilizam um tom monocórdico, muitos podem supor que se trata de uma má atuação por parte de alguns atores, mas não é o caso. Todos os atores cumprem o papel na perfeição e até custa a crer que esta seja a primeira participação de Benedict Cumberbatch num filme de Wes Anderson. A energia dos dois combina de uma forma excecional, ambos excêntricos e ambos geniais.

The Wonderful Story of Henry Sugar é uma belíssima homenagem a Roald Dahl, com a utilização de artifícios que embelezam uma história já de si fantástica. Só resta pedir que a colaboração entre Wes Anderson e a Netflix nunca tenha fim.