A 18 de agosto, quatro anos depois do lançamento do penúltimo álbum de Hozier, Unreal Unearth foi lançado. Desde o lançamento do EP Eat Your Young, em abril de 2023, que o cantor tem vindo a preparar-se para agraciar com a sua presença e voz- e para destruir os corações de quem escuta  as suas letras e melodias comoventes.

Variety

O artista não falhou aos seus admiradores e, mais uma vez, “levou-os à igreja”. Em Unreal Unearth, Hozier foi capaz de preservar a sua identidade lírica. Usou metáforas para retratar problemas da vida atual e referências religiosas e míticas para expressar o seu descontentamento com certas leis e decisões políticas tomadas ao redor do mundo. Conseguiu ainda inovar  ao acrescentar versos na língua irlandesa. É sempre agradável assistir a um pouco de diversidade linguística, algo fora do típico mainstream.

Inspirado nas suas leituras durante a pandemia, como O Inferno d’A Divina Comédia de Dante, o músico irlandês canta sobre o percurso pelos nove anéis do Submundo descrito neste livro. No entanto, em vez de um percurso integralmente literal, é criada toda uma simbologia para representar o reerguer do fundo do poço e o tão desejado alcançar da luz após um duro período na vida. Ao longo desta jornada com, aproximadamente, uma hora de duração, são tocados temas como o pecado e o autoconhecimento.

Denota-se que a variação de melodias neste álbum conta uma história de altos e baixos. Da primeira até à quinta faixa (inclusive) segue-se uma tentativa para agarrar o desejado. As duas canções seguintes  retratam um momento de êxtase por se estar cada vez mais próximo do destino. Em Who We Are tem-se o início de uma queda, literal (tendo em conta de que as inspirações na viagem de Dante não podem ser ignoradas) e/ou metafórica. Da nona faixa até à penúltima, entra-se cada vez mais adentro no Inferno, sendo que a única canção que foge à norma é Anything But. Com o ritmo mais animado de todo o álbum, é uma nesga de esperança no negrume do Submundo. First Light, a décima-sexta e última faixa, reflete o regresso lento e gradual à superfície.

No que toca ao instrumental das canções, o artista trouxe de volta sonoridades dos seus antigos projetos para este terceiro disco. Recuperou o estilo western, mais focado nas guitarras clássica e elétrica do álbum Hozier , onde se destaca o single Eat Your Young. Houve ainda espaço para um pouco do blues e do gospel de Wasteland, Baby!, sendo o tema All Things End um bom exemplo disso.

No entanto, tal não quer dizer que Unreal Unearth não tenha o seu estilo próprio que o distingue dos demais álbuns de Hozier. Há uma forte presença do piano e das cordas (violinos, violoncelos e companhia), sem abandonar a qualidade orgânica do som, característica das gravações de estúdio do artista. Os instrumentais são bastante orquestrais. Son Of Nyx salienta essas características: uma música apenas com  instrumental e suaves backing vocals.

O destaque da produção é, sem dúvida, Son of Nyx. Apenas existe o antes e o depois de se ter ouvido pela primeira vez esta faixa, quando se ouve o projeto por ordem. Deve ser impossível não se emocionar com a melodia. Caro leitor, se quer compreender aquilo que acabei de afirmar, vá comprová-lo por si mesmo e tire as suas próprias conclusões: escute este álbum desde o início até ao último milissegundo desta música. Se quiser, pode prosseguir até ao grande final do disco, depois.

Unreal Unearth é, no mínimo e sem qualquer sombra de dúvidas, um álbum de nove pontos em dez. Este pode, muito bem, ter sido o melhor de toda a carreira de Hozier. Simplesmente, lindo! Revela-se uma boa recomendação para os escritores e leitores de fantasia, que podem se inspirar na criação de novas histórias, ou ambientarem-se em novas leituras.