Da ocupação à crise humanitária na Faixa de Gaza, como vive e resiste o povo palestiniano?

Dia 29 de novembro é assinalado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional da Solidariedade com o Povo Palestiniano. Este dia, que vem a ser comemorado desde 1977, relembra-nos da longevidade do conflito entre Israel e a Palestina e, devido à mais recente escalada dos conflitos, mantém-se mais relevante do que nunca.

Desde 7 de Outubro deste ano tornou-se comum ler e ouvir notícias que nos falam do número de mortes na Faixa de Gaza. No entanto, o conflito entre estes dois estados não é recente e já se vem a arrastar há mais de cem anos.

Considera-se que o fruto deste conflito está sobretudo ligado a razões religiosas, quando na verdade este se deve maioritariamente à divisão de territórios.

 

O que levou ao conflito Israel-Palestina?

De acordo com a publicação “The Question of Palestine” da Divisão para os Direitos Palestinos das Nações Unidas, este conflito teve início em 1917, quando o governo da Grã-Bretanha assinou uma declaração que expressava apoio ao estabelecimento do povo judeu, naquela que era na altura uma colónia britânica, a Palestina.

Durante a II Guerra Mundial, uma grande parte da população judaica imigrou para a Palestina. No entanto, o povo palestiniano sempre procurou a sua independência, o que causou tensão entre os dois lados. Em 1947, com a escalada desta tensão, o governo britânico deixou este problema a cargo da ONU que dividiu o território da seguinte forma:

Divisão do território palestiniano

Em 1948, Israel tornou-se independente, ocupando 77% daquele que era o território palestiniano e declarando guerra aos estados árabes vizinhos. Esta guerra terminou em 1949 com a vitória de Israel, tendo resultados catastróficos com 750.000 palestinianos obrigados a fugir ou a deixar as suas casas naquele que ficou conhecido como “Al Nakba” ou a “Catástrofe”. O território foi dividido em três partes, o Estado de Israel, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

Fronteiras atuais do território

Posteriormente, Israel invadiu a Cisjordânia e a Faixa de Gaza mantendo o seu controlo até 1987, aquando da primeira “intifada”, uma rebelião que procurava a implementação do estado da Palestina. Estes confrontos mostraram-se catastróficos com a morte de um elevado número de civis.

A tensão entre os dois lados mantém-se até hoje, com Israel a colocar constante pressão tanto na Faixa de Gaza como na Cisjordânia e o povo palestiniano luta pela sua autodeterminação como estado independente.

 

Faixa de Gaza – Crise Humanitária

A Faixa de Gaza é uma superfície de 360 km² com cerca de dois milhões de habitantes. Apesar da área não ser território israelita, Israel mantém controlo sobre a mesma no que toca a fronteiras. De acordo com o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Israel condiciona assim o desenvolvimento socioeconómico da Faixa de Gaza.

Este rígido controlo das fronteiras terrestres e marítimas condiciona o transporte de mercadorias, como comida e medicamentos, fazendo com que esta zona se encontre numa constante crise humanitária. Segundo o CICV, a cada dez pessoas sete dependem de ajuda humanitária.

Outro fator que dificulta a vida dos palestinianos nesta região é a crise energética que dura há vários anos, onde por vezes têm apenas quatro horas de luz por dia. Gaza tem apenas uma central elétrica que depende de combustível importado de outros países.

Segundo a CNN, desde 9 de Outubro, dia em que o governo israelita ordenou o cerco completo a Gaza em retaliação aos atentados por parte do Hamas, estes problemas só se têm vindo a agravar. Este cerco impossibilitou o acesso a bens essenciais como alimentos, água potável, eletricidade e combustível. É estimado que cerca de dois milhões de habitantes da Faixa de Gaza corram o risco de contrair doenças, devido à ingestão de água contaminada.

Algumas zonas encontram-se numa crise extrema como o norte da Faixa de Gaza, que se encontra sem eletricidade e combustível desde 11 de Outubro. Segundo afirma o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, o norte do território conta com apenas um hospital em funcionamento.

 

Cisjordânia – O cerco   

De acordo com a ONU, em 2002 Israel iniciou a construção de um muro de separação na Cisjordânia. Contudo, apesar do Tribunal Internacional de Justiça considerar este ato ilegal, até hoje Israel construiu 175 pontos de controlo e outros bloqueios de estrada que impedem a livre circulação do povo palestiniano, afirma a Amnistia Internacional. O traçado do muro da Cisjordânia, assim como o estabelecimento e a expansão de assentamentos (pessoas israelitas que se mudaram individualmente para a Cisjordânia e são denominados colonos) ao longos dos anos, veio inviabilizar o que poderia ter sido o desenvolvimento de um Estado Palestiniano viável.

Em fevereiro de 2022, a Amnistia Internacional divulgou um relatório de 280 páginas que mostravam que Israel impunha uma regime de opressão contra o povo palestiniano. Segundo o relatório, o governo israelita fragmenta e segrega palestinianos em Israel, os residentes de Gaza e da Cisjordânia e impede que os refugiados palestinianos voltem para as suas casas.

Já em março de 2022, o Relator Especial da ONU, no que toca aos Direitos Humanos no Território Ocupado da Palestina, determinou que o sistema político enraizado no território da Faixa de Gaza e da Cisjordânia “satisfazem o padrão probatório prevalecente para a existência do apartheid”.

Agora, com a escalada da violência e o cerco total da Faixa de Gaza desde 9 de Outubro deste ano, é estimado pelo Ministério da Saúde em Ramallah  que as mortes ultrapassem os 11.000. De acordo com um relatório da ONU, cerca de 43.000 casas foram destruídas e mais de 225.000 foram danificadas.

Assim, a comemoração deste dia encontra-se mais relevante do que nunca. Não só para que este conflito não caia no esquecimento, mas também para que seja possível pôr um fim à ocupação do território palestiniano.