O dia pretende destacar a força do poder estudantil e valorizar uma camada que sofre de diversos problemas estruturais.
Comemora-se a 17 de novembro o Dia Internacional dos Estudantes. A celebração deste dia eclodiu durante o período de ocupação nazi na Checoslováquia após a repressão de um grupo estudantil no ano de 1939. Inúmeros dirigentes da Federação Central de Estudantes Tchecoslovacos foram assassinados ou levados para campos de concentração durante uma invasão nazi que ocorreu nesse dia na Universidade. Atualmente, o dia celebra-se em homenagem a todas as vítimas que perderam as suas vidas nesse dia.
Os estudantes sempre foram considerados grandes forças da sociedade e estão no epicentro de diversas manifestações culturais e sociais, algo documentado por jornalistas e fotógrafos ao longo do tempo. Esta atuação é evidente no século XX, em Portugal, durante a ditadura salazarista. Assistiu-se a inúmeras manifestações de estudantes universitários que aspiravam a um país livre em prol da educação e expressão de opiniões e ideias contrárias às impostas. No contexto atual político e económico português, as preocupações estudantis não perdem voz com o aumento das dificuldades financeiras.
Alguns dos principais problemas apontados passam pelo preço dos alojamentos, pagamento de propinas, transporte e condições estruturais dos seus centros de ensino. No próximo dia 22 de novembro vai realizar-se uma manifestação promovida pelos alunos que habitam nas residências universitárias da Universidade do Minho, em sequência da criação de um manifesto que visa melhorar as condições das residências de Braga e Guimarães. Gonçalo Silva, uma das vozes deste movimento, expressou ao ComUM as principais preocupações que ocupam a vida académica dos alunos.
Gonçalo Silva refere que o projeto “nada mais é do que um grupo de alunos que veem na luta uma forma de resolver os problemas com os quais são enfrentados”. Destaca a falta de frigoríficos, micro-ondas, das infiltrações nos quartos e dos elevadores que não são funcionais. “O que se nota aqui é que, em torno da observação destes problemas, podemos criar algo que os possa resolver”.
Os problemas apontados no campo universitário são diversos, “nas residências a falta de condições, mas a falta de alojamento em geral é uma questão que os alunos sentem bem na pele”. Gonçalo Silva salienta a dificuldade em encontrar um quarto residencial barato, referindo que se pagam “balúrdios”. A acrescentar, “a própria questão da propina não deixa de ser uma barreira à frequentação do ensino superior” e o estudante lamenta a falta de complementos de alojamento e deslocamento a alunos de outras regiões do país.
O representante do movimento reconhece que a falta de soluções advém de uma falta de financiamento, mas “não estamos a pedir milagres”. Na questão da habitação, Gonçalo Silva adianta que é necessária a “materialização do PNAES (Plano Nacional de Alojamento do Ensino Superior) que já saiu como decreto pelas mãos do governo no ano de 2018, porque só saiu para o papel”. Acrescenta que na Universidade do Minho é extremamente crucial a construção da residência na antiga fábrica Confiança em Braga e na antiga Escola Santa Luzia em Guimarães.
O estudante refere que nos últimos anos se observa “um governo que dá grandes borlas aos bancos, às grandes empresas, fuga de impostos e tapa muitas vezes os olhos a esta questão da taxação”. Em casos de crise, Gonçalo Silva critica as ajudas fornecidas aos bancos e o IVA zero às grandes empresas, mas salienta que o que os estudantes pedem “são esmolas para resolver problemas que se sentem diariamente”, de forma a manter os estudantes no ensino superior.
No que toca às propostas e soluções apresentadas pela AAUMinho (Associação Acdémica da Universidade do Minho), Gonçalo Silva acredita que “ideias não faltam, o que falta no plano da direção da associação académica é sair do papel e perceber que só na mobilização de todos os estudantes é que se podem resolver os problemas”.
O estudante olha para a história como uma demonstração dos estudantes enquanto uma das “maiores forças motrizes do progresso da sociedade, da luta contra a injustiça e da própria democracia na vida política”. Acrescenta que “as próprias associações e quem devia mais representar os estudantes muitas vezes ficam muito passivos nesta questão”.
O primeiro movimento estudantil de grande escala em Portugal começou no dia 26 de março de 1962. Com a proibição da celebração do Dia do Estudante, a 24 de março, as associações académicas de Lisboa e de Coimbra declararam “Luto Académico”. Isto traduziu-se na greve geral às aulas, proibido na época devido às condições ditatoriais do país.
A escala do movimento ganhou notoriedade ao longo dos dias, provocando atos disciplinares de suspensão, a suspensão da Associação Académica de Coimbra (AAC) e a imposição de que a Secção de Futebol da academia tivesse uma comissão administrativa governada por um militar. Em resposta, a AAC cancelou pela primeira vez a Queima das Fitas e atividades desportivas. Já na academia de Lisboa, as manifestações tomaram lugar com uma greve de fome. Foram 81 estudantes que começaram o movimento que acumulou cerca de 1500 alunos e professores.
Relembrando os momentos de revolução do “grande abril”, Gonçalo Silva destaca a ideia de que “a única forma de construir e defender a democracia é exercendo a própria democracia”. O estudante apela para que todos lutem, “todas as vozes contam, todas as mãos possuem a capacidade de transformar a realidade e que a melhor defesa das conquistas do grande abril são a democracia e os direitos que daí se sucederam”. O jovem incentiva os estudantes a comparecerem na manifestação do dia 22 deste mês, como forma de exercerem o seu direito à liberdade de expressão.