Na minha curta história, nunca me lembro de me ter interessado por política. Sempre achei que fosse “uma preocupação dos adultos”. A verdade é que, com o tempo, comecei a perceber que é algo que afeta tudo e todos, nacional e mundialmente.
Os jovens demonstram uma atitude simultânea de descomprometimento e desinteresse em relação ao futuro da democracia do nosso país. Esta falta de preocupação, somada à carência de conhecimento político, certamente terá repercussões no exercício da liberdade de expressão nos próximos anos. Muitos jovens não serão capazes de argumentar, debater ou advogar pelos seus direitos. São poucos aqueles que conseguem expressar as suas opiniões de maneira articulada e fundamentada, utilizando informações válidas e devidamente comprovadas.
No entanto, algo a que devemos dar mérito é ao interesse dos mais novos por causas como o aquecimento global, o acesso à habitação ou a igualdade de género. Os jovens precisam de assumir o papel de protagonistas da sua própria geração. É essencial ter representantes que genuinamente reflitam a diversidade e as perspetivas dos jovens. Infelizmente, muitos deles afastam-se devido à sensação de que as suas opiniões não são ouvidas ou reconhecidas. Estamos perante a geração mais qualificada e com maior acesso à informação e conhecimento, devemos tomar partido disso. O que falta é apenas vontade por parte da política interna.
Portugal vive neste momento num estado de crise política. A queda de um governo de maioria absoluta só veio deixar os portugueses ainda mais descontentes com a política do país. O povo português está desacreditado e não há como não perceber o porquê. A testemunhar este tipo de acontecimentos já no início da sua vida adulta, como irão os jovens acreditar que vale a pena votar para um governo que nunca cumpre o que promete?
Segundo dados da Pordata, em 2022, a taxa de abstenção eleitoral registada nas eleições para a Assembleia da República foi de 48,6%. Em 1975, a percentagem era 8,5%. É um aumento terrivelmente preocupante em quase 50 anos de democracia, o que me faz pensar no número que se registará em 2024, nas eleições antecipadas.
Uma das características mais consistentes na amostra de população que menos vota é a tenra idade. Observa-se que os indivíduos mais velhos apresentam uma maior taxa de participação nas eleições, enquanto, em contraste, os jovens exibem taxas mais elevadas de abstenção eleitoral. A Universidade do Algarve realizou um estudo para tentar entender as razões que levam os jovens a tomar este tipo de comportamento. Os resultados obtidos concluem que os jovens demonstram um distanciamento voluntário em relação ao processo eleitoral, alegadamente devido a promessas eleitorais não cumpridas e a perceção de falta de representatividade das suas preocupações e anseios.
Outro fator que influencia este distanciamento é o facto de que, de maneira geral, e não apenas entre aqueles que ainda não atingiram a idade de voto, os jovens costumam apresentar níveis mais baixos de conhecimento político. Na minha opinião, tal deveria ser combatido através da implementação de palestras ou aulas de introdução à política nas escolas básicas e secundárias.
A verdade é que o futuro do país e do mundo está nas nossas mãos, jovens. Exercer o direito de voto e ter uma voz ativa na sociedade são gestos que nos permitem moldar o mundo. Posto isto, deixo o meu apelo a todos os jovens eleitores para que se informem e adotem uma postura dinâmica na comunidade de modo a combater a apatia e promover a mudança positiva. A participação cívica vai além das urnas; envolve entender as questões, debater ideias e contribuir para um diálogo construtivo. Juntos, podemos superar desafios e construir um futuro mais justo e equitativo.