Laufey é, segundo os tablóides atuais, a salvadora do jazz. Há dois meses lançou o seu segundo álbum de estúdio, Bewitched… e este é melhor que o de estreia. Durante os seus quase 48 minutos de duração, o disco está repleto de tudo e mais qualquer coisa.  A artista islandesa já tem vindo a habituar o público a essa variedade desde 2020, quando começou a publicar vídeos na Internet a cantar.

NME

A sonoridade de Laufey busca inspiração nos estudos de música clássica da artista e nos êxitos do jazz com que ela cresceu a ouvir. Tal junção culmina em canções que remetem para os filmes e peças de teatro musicais de Hollywood e da Broadway, da década de 50. A cantora reinventa clássicos do jazz, à sua maneira. Para além de criar composições originais com um estilo retrô e conjugá-las com letras modernas e atuais.

Não é necessariamente obrigatório ouvir o Bewitched por ordem. Não existe, propriamente, nenhum tipo de narrativa que conecte as letras de cada canção. Salientam-se, deste disco, as faixas “Lovesick”, “Nocturne (Interlude)”, “Letter To My 13 Years Old Self” e “Bewitched”.

“Lovesick” soa diferente de todo o repertório da cantora. Destaca-se dos restantes temas de “Bewitched”. Foge um pouco do estilo jazzy e orquestral característico da artista e aproxima-se à música pop atual. Um dos contras que podem ser apontados às canções de Laufey é uma certa falta de variabilidade no estilo musical, especialmente nos seus primeiros trabalhos. Porém, este pequeno defeito foi aparado no novo projeto.

“Nocturne (Interlude)” é uma peça instrumental com motivos musicais das outras faixas do álbum.  O interlúdio destaca-se simplesmente pela sua serenidade, mais o facto de, tal como “Lovesick”, soar diferente de tudo aquilo que a artista já lançou.

O que chama a atenção em “Letter To My 13 Years Old Self” não é o seu arranjo musical, mas sim a composição lírica. A canção é uma carta de amor à pequena Laufey de treze anos que se sentia isolada de todos na escola. A Laufey do presente relembra-lhe (naquela que deve ter sido a canção mais emotiva, íntima e sensível que a artista criou até hoje) o quão bonita ela é e a quantidade de sonhos que tem ainda de realizar. Eis aqui mais uma prova da evolução da artista desde o seu primeiro álbum de estúdio, “Everything I Know About Love”. Largou, por breves instantes, a imagem de poetisa apaixonada pela ideia do amor e a tudo relacionado com ele.

Por último, “Bewitched” fecha o álbum, ao qual dá nome, com chave de ouro. Provavelmente, esta é a canção que melhor representa e combina todos os trejeitos musicais da cantora. Tem um instrumental que poderia muito bem fazer parte da banda sonora de um dos primeiros filmes de princesas da Disney. Se calhar, tem a letra mais romântica alguma vez escrita pela artista. A voz de Laufey nunca soou tão encantadora, aconchegante e reconfortante quanto nesta canção.

Outro ponto negativo que pode ser apresentado relativamente à música de Laufey é uma certa rigidez nas suas produções. Parece que as suas bases da música clássica (conhecida por analisar uma partitura como algo objetivo, seguir regras inflexíveis) entram um pouco em conflito com as inspirações no jazz, gênero que desrespeita algumas das normas musicais e valoriza a liberdade expressiva dos performers. Falta isso a Laufey: soltar-se e ir contra as leis da teoria musical clássica.

A artista já provou que tem capacidades para tal. Provou que consegue inovar e surpreender. Um bom exemplo disso é a atuação que fez ao vivo com a Orquestra Sinfónica da Islândia: Laufey demonstrou a sua versatilidade, quer em inglês, quanto em islandês.

Houve uma evolução na arte de Laufey com Bewitched. Porém, ainda existe muito espaço para melhorias. Há que esperar para ver que mais é que a cantora fará para deixar os ouvintes ainda mais apaixonados pela sua música.