Celebra-se a 14 de novembro o Dia Nacional da Terapeuta da Fala.

O ComUM esteve à conversa com a terapeuta da fala, Marta Silva, responsável pelo tratamento das áreas relacionadas com a Comunicação, Fala, Motricidade Orofacial, Linguagem (oral e escrita), Voz, Deglutição e Fluência. A especialista desenvolve trabalhos com indivíduos entre os 16 meses e os 88 anos, contudo, estas intervenções podem acontecer desde a incubadora (na área da neonatologia).

Marta Silva

A terapeuta da fala considera fundamental o trabalho em equipa “para o sucesso da intervenção”, comunica “frequentemente com diversos elementos associados a cada caso” e a criatividade de “cada atividade e cada local escolhido é estruturada ao pormenor”. O trabalho que desenvolve com as crianças “não é um momento de ‘trabalho’, mas sim um lugar de brincadeira e, por consequência, de aprendizagem”, salienta Marta Silva.

O trabalho da jovem terapeuta vai muito além das intervenções diretas, sendo que desenvolve “dinâmicas a nível de prevenção das patologias, avaliação das necessidades dos pacientes e contribuição para o estudo científico das diferentes áreas”. A monotonia não faz parte do dia a dia de Marta Silva uma vez que, dependendo das necessidades do paciente, adapta-se a diversos locais (Lar de Idosos, escolas, clínicas ou até mesmo praia) para as suas consultas, tendo sempre em conta os objetivos de cada paciente. A escolha do local de intervenção é muitas vezes a ferramenta chave para o sucesso nas diferentes patologias que recebe.

Para o trabalho desenvolvido “é fundamental a relação que é estabelecida”, a patologia pode requer intervenções mais sérias e formais, contudo as brincadeiras, o carinho e o conforto ocupam sempre o espaço de cada consulta. Segundo a terapeuta, a intervenção indireta por parte da família é imprescindível, “importa que se sinta acompanhada, validada, ouvida, segura e orientada durante o processo”.  Uma vez que as perturbações podem ter várias origens, é sempre realizada uma recolha e análise de exames complementares de diagnóstico, para que seja possível encaminhar os pacientes para o tratamento correto. Marta Silva exemplifica, “quando uma criança apresenta alterações na sua fala, estas podem ter diversas origens”. A profissional salienta a importância de “perceber se a criança tem alterações auditivas para se delinear o melhor acompanhamento em função da origem da patologia de base”.

O processo de intervenção terapêutica inicia-se sempre por uma entrevista, “preferencialmente sem a criança”. O principal objetivo é o conhecimento do neurodesenvolvimento da criança e ambiente social em que o individuo se insere, assim como o dos próprios indivíduos que interagem com ele. “Eu irei retirar informações também sobre os profissionais que acompanham a crianças”, de seguida procede “à avaliação da criança e das suas necessidades”. A terapeuta refere que “todo o estudo sobre a criança tem a finalidade de perceber os seus objetivos e de que forma a sua intervenção poderá ser facilitadora no processo de tratamento”.

As avaliações dos pacientes podem ter um maior ou menor espaçamento, sendo que Marta trabalha “com pacientes adultos que sofreram lesões neurológicas, numa unidade de reabilitação”. Nestas situações, a avaliação do paciente é diária. A terapeuta refere que, “muitas vezes, os pacientes não têm família ou não têm suporte familiare as indicações sobre e intervenção indireta passam para os funcionários das instituições e, mais tarde, para quem cuidará destes.

De acordo com a disposição dos mais pequenos à mudança e ao progresso da comunicação, a terapeuta menciona que difere com a idade dos pacientes e que vários fatores podem influenciar. No caso de crianças de 3 ou 4 anos, tem de haver um maior cuidado e atenção aos gostos da criança, “ao que é do seu agrado”, e também àquilo que consegue fazer. O tipo de tratamento a aplicar é igualmente importante, se o tratamento aplicado for errado corre-se o risco da “criança se frustrar”, uma vez que as estratégias usadas não se equiparam aos resultados esperados. A consciência que a criança tem sobre o seu problema pode influenciar o seu estado de espírito, “podendo ser ou não um facilitador dependendo da forma como afeta a autoestima da criança “. No que diz respeito aos adultos, tendo por base a experiência da especialista, é importante capacitar o paciente para as consequências do “não tratamento”.

As imensas variáveis que podem influenciar a participação voluntária e positiva de um paciente em consulta vão desde aspetos culturais até aos mais pessoais, “tipo de relação que tem com o terapeuta”. “Nós, terapeutas, sabemos que por vezes uma boa conversa pode ser o miminho que aquela família ou aquele paciente está a precisar”. Marta Silva considera que nem sempre os dias correm bem e que enquanto profissional há sempre uma grande empatia com os pacientes e os familiares.

Conclui por fim que “ser Terapeuta da Fala não é só uma profissão, mas também uma das grandes paixões. “