Jeanne du Barry abriu o festival de Cannes este ano, com a presença de Maïwenn, Johnny Depp e grande parte do elenco. A obra cinematográfica, escrita, dirigida e produzida pela atriz principal chegou às telas de cinema dos portugueses no passado mês de novembro.

Inspirado na verdadeira história de vida de Jeanne du Bécu, o filme conta-nos a sua história. Filha ilegítima de uma costureira pobre, subiu à corte de Luís XV, tornando-se uma das principais amantes do rei, interpretado, na obra, por Jonnhy Depp. Ao contar esta trajetória verídica, é comum persistir à dificuldade em fazê-lo e não suscetibilizar as sensíveis almas dos historiadores. No entanto, a polémica surge, não pelos fartos detalhes e ricos pormenores, mas pelos escândalos à volta das acusações de violência a Johnny Depp e à própria Maïwenn.

A escolha do ator para o papel principal de rei, no momento em que este era acusado de violência doméstica é o mínimo das ousadias. Pode-se sim dizer que ousada seria Maïwenn, ao contar e retratar a complexa história de Jeanne du Barry, com um olhar atento e cuidado, a par dos requintados figurinos e do estilo clássico aprimorado, como raramente se vê nas produções francesas e filmes de época.

Embora a ousadia nos detalhes se tenha sobressaído no desenrolar da própria narrativa, a distinção ficou um pouco aquém daquilo que se esperaria de uma obra desta magnitude. À exceção de uma cena ou outra, como aquela em que a protagonista anda de gatas em cima da mesa, poucas são aquelas que recorrem a um certo atrevimento e audácia, por parte da direção.

Por outro lado, a sensualidade é frequentemente despertada e usada até como uma das emoções principais de toda a trama, fugindo da obviedade. As cenas de nudez e sexo enriquecem, de certa forma, o desenrolar da história das personagens e a trajetória da protagonista. A envolvência erótica é, sim, um fator determinante e Maïwenn conseguiu o belo feito de a tornar um meio de emancipação feminina.

Os figurinos e toda a estética do filme adornam o argumento, de forma quase imperceptível. Com o brilho a surgir apenas do design de produção, do guarda-roupa e da direção de fotografia, a montagem, precisa e monótona, faz descambar cada um dos pontos anteriores, levando a um desinteresse imediato nos primeiros vinte minutos do longa.

Filmado em filme 35mm, maioritariamente no Palácio de Versailles quando este estava fechado ao público às segundas feiras, Jeanne du Barry apresenta-se como um filme inspirado numa história verídica, repleto de liberdades, mas que se mantém sempre inanimado. Afinal, falamos de uma cortesã, que rapidamente se tornou condessa, a amante favorita e o grande amor do rei Luís XV, gerando um enorme escândalo na corte francesa. Não haveria lugar para algo mais arriscado? Sim. Porém, Maïwenn cedeu desapaixonadamente ao facilitismo e superficialidade.