A candidata à direção realça aspetos a melhorar na aproximação com a comunidade estudantil.

As eleições para os diferentes órgãos da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUMinho) decorrem na próxima quarta-feira, dia 6, através da plataforma e-votum. Margarida Isaías, atual presidente da associação e recandidata ao cargo, pretende aproximar ainda mais a academia introduzindo novas propostas e melhorando certos aspetos já existentes.

Entrevista a Margarida Isaías na íntegra

 

ComUM – Quais os principais objetivos desta recandidatura?

Margarida Isaías – Já estou na associação académica há algum tempo e fui crescendo nela. Este ano o desafio foi, de facto, ser presidente. É um trabalho de representação política e de acompanhamento e gestão da equipa. Eu acho que quando alguém se candidata à associação académica tem três principais motivos: a vontade de trabalhar em prol da comunidade académica, considerar que tem as ferramentas necessárias para o fazer e, acima de tudo, tem aquele sentido de responsabilidade e vontade de crescer. Crescemos muito no associativismo e é um desenvolvimento pessoal e profissional. Acho que a própria associação precisa dessa estabilidade e de conseguir consolidar algumas questões e objetivos. Pretendo consolidar e aproximar a academia. E quando digo academia digo os núcleos e os estudantes, os residentes, as universidades, a comunidade das cidades de Braga e Guimarães e o próprio Ministério. Torna-se importante olharmos para a comunidade académica como um todo. Assim, conseguimos trabalhar em prol dos estudantes e conseguimos aprender e crescer. Eu não gosto muito de chamar a isto uma recandidatura porque, pessoalmente é, mas a nível da estrutura e da lista é uma candidatura nova.

ComUM – O mandato anterior correu na perfeição? 

Margarida Isaías – Não, de todo que não foi perfeito, nem acho que a ser eleita no próximo ano será perfeito. Eu acho, e tenho de passar isso aos dirigentes, que é importante termos a humildade de perceber que nós erramos, porque só assim conseguimos depois fazer melhor.

ComUM – Quais foram alguns erros cometidos e de que forma pretendem melhorá-los no caso de a lista A ser eleita?

Margarida Isaías – No que toca às atividades, este ano que passou foi um ano de retoma das mesmas. O ano passado foi o primeiro ano após a pandemia e para 2024 a nossa ideia era muito consolidar aquilo que foi feito. Há sempre imprevistos que decorrem, mas acho que em eventos grandes, nos anos anteriores, houve bastantes críticas ao serviço de transportes e em 2023 não aconteceu, algo que acho ser um ponto positivo. Tentamos trabalhar alguns dos temas da sociedade, como a questão dos estudantes com necessidades específicas e a questão dos estudantes PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). No entanto, isto foram apenas sementes, ainda pouco fizemos e acho que há mais para fazer e para continuar a fazer. Iniciativas como “A gata vai de férias”, por exemplo, era algo novo que tinha o objetivo de trazer música alternativa que não esteve presente no Enterro da Gata. Tínhamos a ideia de o fazer numa praia fluvial, algo com vários palcos e com desporto e cultura à mistura. Contudo, não o conseguimos fazer porque choveu e a própria Imposição de Insígnias era suposto ter sido no Sameiro, mas depois também havia previsões de chuva e trocamos. Portanto, há aqui algumas questões que podem ser melhoradas ainda no próximo ano a nível de atividades.

ComUM – Essas são atividades a implementar em 2024?

Margarida Isaías – Apesar dos imprevistos meteorológicos, acho que fizemos um bom trabalho de adaptação. Na Imposição de Insígnias, o feedback que tivemos foi muito bom. A nível político destas atividades eu acho que a comunicação é uma coisa muito difícil. É difícil chegar aos 20.000 estudantes da universidade e fazer com que todos conheçam a associação académica e o que faz. Acho que ainda não foi perfeito. Nós começámos a rubrica “AAUMinho presente” numa lógica de dar a conhecer aquilo que fazemos a nível político, tomadas de posse, aniversários, reuniões com o Ministério, reuniões com a reitoria. Dar a conhecer algumas destas questões que os estudantes às vezes não percebem o que significam. Nós começámos com uma regularidade muito grande e depois perdeu-se um bocadinho. No próximo ano acho que esta rubrica faz todo sentido, é uma forma de chegar a mais estudantes. Acho que podemos ainda trabalhar melhor para ter uma maior regularidade e perceber aquilo que os estudantes não sabem. São alguns exemplos que acho que nós podemos melhorar.

ComUM – Esta aproximação da academia passará por uma maior transparência no que toca aos documentos da AAUMinho?

Margarida Isaías – Apesar dos estudantes não estarem presentes na Reunião Geral de Alunos (RGA), têm acesso aos documentos. Quando existe uma convocatória para a RGA relativa à aprovação do plano de atividades ou até do relatório de atividades e contas, essa convocatória já vai com os documentos anexados para dar tempo aos estudantes de analisarem e tirarem as suas dúvidas, propondo sugestões ou até alterações. Portanto, os estudantes têm acesso a esses documentos, não só através da convocatória, mas nós tentamos também colocar no nosso site. Aproximar a academia também é aproximarmo-nos ainda mais dos estudantes e esta parte da comunicação é muito difícil. Nós tentamos fazer algo mais diferente este ano, que foi a AAUMinho presente como já mencionei, e acho que ainda conseguimos fazer melhor no próximo ano.

ComUM – Relativamente ao atraso na construção da Sede da AAUMinho no campus de Gualtar, se não há sede como podem os estudantes ter um contacto próximo com a associação?

Margarida Isaías – Isto foi algo que discutimos muito enquanto lista. Sentimos que a forma de nos aproximarmos dos estudantes não passa só pela comunicação ou contacto. Eu acho que os serviços que a associação académica tem é uma forma de a aproximar dos estudantes e de eles a conhecerem. No entanto, a AAUMinho tem um conjunto de serviços que a maior parte dos estudantes não sabe que os tem. Podemos trabalhar muito mais os serviços que temos, como é o caso do serviço de transportes, das reprografias, dos bares académicos e dos espaços Recurso. Há ainda mais espaços que se calhar nós podemos utilizar para novos serviços que vão de encontro àquilo que os estudantes necessitam. Acho que um grande objetivo, se nós ganharmos as eleições para próximo ano, é melhorar a gestão de serviços. Queremos um cargo novo, com um dirigente do departamento de administração para a gestão de serviços. A ideia será perceber como é que nos podemos mais aproximar dos estudantes e queremos apostar nisso.

ComUM – De que forma foi a parceria para a construção da Residência Andy uma forma de colmatar o problema do alojamento estudantil, dados os preços elevados?

Margarida Isaías – Debatemos imenso este problema e acho que ambas as listas acabam por concordar na falta de alojamento que existe e na urgência de ter novas camas e reabilitar as que já existem. A questão da Residência Andy não resolve problema algum. Acho é que acaba por trazer mais camas para aqueles que conseguem comportar o preço do alojamento. Infelizmente, isto não engloba a maioria dos estudantes. É por isso que a nossa prioridade continua a ser lutar e reivindicar por alojamento universitário público para todos os estudantes que dele necessitam e é daí que surge esta parceria com a Andy. De facto, os preços são elevados. Há estudantes que conseguem pagar e há estudantes que não conseguem. Por isso, a lista A deve e, se ganhar as eleições, vai continuar a trabalhar para que exista alojamento público para todos os estudantes.

ComUM – No ano passado avançaram que seguiriam em frente com as obras de uma nova residência na fábrica Confiança em Braga. O que justifica este atraso e que medidas propõe a lista A para poder prosseguir com as obras?

Margarida Isaías – Nós temos as residências na Santa Luzia, em Guimarães, e essa da fábrica Confiança em Braga. Ambas estão numa fase de concurso público e aquilo que me dizem é que a de Guimarães vai avançar mais rápido do que a de Braga. Se já deviam estar obras a acontecer, eu não sei. Dizem-me que os timings estão mais ou menos certos, porém, a de Braga poderá atrasar mais. Esta é uma obra muito grande e acho que, de todas as residências a ser construídas, esta é a que mais camas vai ter. São quase 700 camas e torna-se um projeto interessante do ponto de vista das empresas. Fechando o concurso público, as empresas que não ganharam podem fazer recurso e podem fazer recurso do recurso. Isto são coisas que nos saem das mãos porque é a lei e aí sentimos que é um bocadinho difícil termos uma ação. No entanto, há outros aspetos nos quais podemos ter uma ação. Quando se dá uma obra, uma empresa tem que fazer um adiantamento e o adiantamento que o Estado estava a dar no âmbito do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) era muito baixo e não estava a cativar as empresas. Esta foi uma questão que nós levamos ao Ministério e vai ser aumentado esse valor que vão dar para adiantamento da construção das residências.

ComUM – A lista A está esperançosa para uma maior acessibilidade ao alojamento em 2024?

Margarida Isaías – Eu acho que é um caminho longo a percorrer. Esta questão do PRR, a construção de novas camas e reabilitação de existentes, é algo que se atinge a longo prazo. Só para 2025/2026 é que teremos isto. No entanto, há medidas como o complemento de alojamento que este ano aumentou que são bastante positivas e importantes. Ainda assim, acho que há outras questões que devem ser trabalhadas. O próprio valor que o Estado atribui de bolsa para o alojamento é muito reduzido. E as residências e os serviços da ação social não têm dinheiro para a manutenção dos edifícios. O Estado dá 100 euros para uma residência pública e isto tem de pagar as contas da água, da luz, dos funcionários e ainda a manutenção do edifício. Mas depois está disposto a dar mais de 50% deste valor, que são cerca de 300 euros, para o alojamento privado. Estamos a ver aqui a discrepância enorme que não permite a manutenção destes edifícios e acarreta custos muitos elevados para o Estado. Não havendo opção pública, os estudantes têm que ir para o privado e o Estado acaba por ter de comparticipar isso.