Não é novidade nenhuma dizer que o futebol está intrínseco na sociedade portuguesa, dominando os programas de televisão e os temas de conversa da maior parte da nossa população. Com toda esta paixão dos portugueses por este desporto, seria previsível uma grande afluência aos estádios de todo o país, para se ver ao vivo as equipas e os jogadores favoritos dos adeptos. No entanto, vivemos numa realidade em que isso está longe de ser verdade.

De acordo com o site oficial da Liga Portugal Bwin, a média de público nos estádios da primeira divisão, na temporada atual, é de 12303 espetadores. Fazendo uma comparação rápida com as principais ligas da Europa, este número fica muito aquém da afluência conseguida nesses campeonatos. O nosso país vizinho tem como média, esta época, no seu principal escalão, 28923 adeptos, enquanto o campeonato francês tem em média 26823 espetadores nos seus estádios. Quem está presente no pódio é a Série A italiana, com uma média de 30666 pessoas, juntamente com a Inglaterra, que tem a impressionante marca de 38179 espetadores. A medalha de ouro fica com a Bundesliga alemã, com 42992 adeptos em média.

Esta diferença gritante entre o público do nosso campeonato e o das cinco principais ligas do planeta pode assustar as pessoas menos informadas sobre este assunto, mas quem acompanha com regularidade o futebol europeu sabe que isto é só a ponta do icebergue de um problema estrutural que temos em Portugal. De acordo com uma sondagem feita pela Intercampus, cerca de 94,5% dos portugueses tem como clube favorito um dos “três grandes”. Outro dado relevante é que essas três equipas contribuem em 61% para a média de espetadores.  Estes resultados já nos ajudam a perceber o porquê da média de adeptos nos nossos estádios ser tão baixa, pois os restantes clubes apenas são representados por uma pequena parte da população.

Esta alta percentagem é também um reflexo da grande concentração populacional nas duas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, com quase metade dos portugueses a viverem nestas duas metrópoles. Um bom exemplo disso é o clube minhoto Moreirense FC, cuja vila que lhe dá o nome, Moreira de Cónegos, ter pouco mais de 4600 habitantes. É irreal ter a expetativa de uma boa média de público por parte de uma equipa que tem um potencial de adeptos tão baixo.

Em Portugal, muitos apaixonados por este desporto preferem ver os clubes mais poderosos pela televisão, do que sair de casa e apoiar o clube da sua terra, algo que raramente acontece, por exemplo, na Alemanha ou na Inglaterra, onde a mentalidade dos adeptos é completamente oposta à nossa. Os segundos escalões desses dois países têm uma maior média de espetadores no estádio do que a nossa principal divisão.

Dois clubes minhotos têm sido as grandes exceções do nosso campeonato, sendo eles o SC Braga e o Vitória SC. Os bracarenses e os vitorianos contam com uma massa adepta de grande valor, conseguindo manter de forma constante uma boa média de espetadores nos estádios. Isto resulta do esforço que ambas as equipas têm realizado junto aos seus cidadãos para que apoiem o clube da sua cidade, tanto através de programas nas escolas, para o público mais novo, como em publicidade, nas redes sociais e outros suportes.

Estas duas formações minhotas fazem-me ter a esperança de que outras equipas sigam o mesmo caminho pois, apesar de ser demorado, irá com certeza contribuir para um campeonato mais equilibrado e competitivo. O desporto, e o futebol em particular, só têm a ganhar se todos lutarmos por isso!