Mais uma vez, boygenius, a banda constituída por Phoebe Bridgers, Lucy Dacus e Julien Baker, volta a reunir-se para a construção do seu segundo EP, the rest. Lançado a 13 de outubro de 2023,  a produção permite-nos navegar num mar de sentimentos e auto descobertas.

Rolling Stone

Quem conhece os dois primeiros projetos da banda é já familiar com o sentimento de imersão na pele das artistas, ao ouvir as letras comoventes que as mesmas partilham. A experiência ao escutar the rest não é diferente.

Este EP conta a sua própria história. As suas quatro canções complementam-se através de harmonias, letras e emoções. O projeto baseia-se nos trabalhos anteriores das três artistas, mas adota um foco específico em contrastar a escala da expansividade das imagens extraterrestres com as banalidades da vida quotidiana.

A profundidade emocional da banda é, mais uma vez, notável durante esta viagem musical. Cada membro é conhecido pelas suas composições introspectivas e carregadas de emoção. As letras mergulham em experiências e emoções pessoais, criando uma conexão profunda com os ouvintes.

Neste disco, boygenius não tem medo de abordar temas vulneráveis ​​e honestos. A disposição das cantoras em compartilhar experiências e lutas pessoais torna as suas músicas relacionáveis ​​e ressonantes. Exemplos desta vulnerabilidade e honestidade são as letras “It hurts to hope the future will be better than before” e “I wanna live a vibrant life but I wanna die a boring death”, em “Afraid of Heights”.

Os projetos desta banda destacam-se muito pela colaboração harmoniosa entre Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus. Este EP não é exceção. A junção das três vozes cria algo impactante e primoroso, ao se complementarem entre si. As harmonias nas suas músicas produzem uma experiência auditiva rica e envolvente.

“Black Hole” é a única faixa do EP que não dá destaque apenas a um membro da banda e às suas vidas ou sentimentos pessoais. As três músicas restantes enfatizam a experiência e o estilo de um indivíduo.

Algo muito especial acerca destas artistas e desta produção musical é a capacidade de formar metáforas extraordinárias, que favorecem mais imagens expressivas do que explicações. Podemos reparar nestas metáforas, por exemplo, em “Afraid of Heights”, onde Lucy Dacus faz uma linda serenata para os ouvidos dos fãs, comparando a espera pacientemente ao açúcar a dissolver-se numa chávena de chá. A metáfora implica o processo de lentamente perceber uma grande falha num relacionamento, enquanto prende a respiração até que outra pessoa “emerga”, simbolizando a sensação de sufocamento  por evitar aceitar esta revelação dolorosa (“When the black water ate you up/Like a sugar cube in a teacup/I got the point you were makin’/When I held my breath ‘til you came up”).

the rest usa o espaço sideral como uma metáfora para a escuridão que frequentemente encontramos ao longo da vida, mas que é perfurada pela luz das estrelas (podemos reparar nisto principalmente em “Powers”). Assim, como nos trabalhos anteriores do trio, a amizade é o coração do projeto. Depois de tudo o que passaram, fica claro que as conexões estreitas ajudam o grupo a manter-se são. A mensagem que a banda e o EP passam ao seu público é algo admirável. Mesmo no meio de tantas lutas, encontramos sempre salvação e conforto nas pessoas que mais se importam conosco, e vice-versa.

Apesar de ser um lançamento muito breve, the rest entrelaça com sucesso a individualidade estilística de cada um dos três membros. O projeto consegue refletir a qualidade pela qual boygenius é conhecido, em mais uma obra-prima musical.