Após 50 anos da versão original, Wonka estreou nas telas dos cinemas portugueses no dia 6 de dezembro. Um filme que com todo seu encanto dividirá opiniões entre os fãs do fantástico mundo do chocolate.

Neste longa acompanhamos o jovem Willy Wonka (Timothée Chalamet) com o sonho de abrir sua própria loja de chocolates e assim honrar a sua família. Ao chegar na cidade grande, o seu principal desafio será encarar o cartel dos três chocolateiros gananciosos que dominam o comércio da zona.

Com certeza a grande surpresa no início da trama é descobrir não apenas se tratar de um musical, mas que Chalamet não desafina nos vocais. O ator vem se mostrando muito versátil nos diferentes gêneros cinematográficos (Duna, Bones and All e o famoso Call Me By Your Name) e desta vez interpreta um Wonka muito distinto das versões anteriores. Se em 1971 Gene Wilder encara um personagem contraditório, misterioso e até meio psicopata, Chalamet pouco explora essas facetas do chocolateiro. Ao retratar um Wonka mais inocente e sonhador (evidentemente proveniente da sua imaturidade) , não convence o público ser esse o personagem que antecede ao filme de Mel Stuart. Ou seja, existe uma sensação de falta de coerência entre as duas histórias.

Nesse sentido, outros personagens roubaram facilmente a cena, a começar pela doce Noodle (Calah Lane). A menina possui uma boa dinâmica com o personagem principal e, no final, tem uma narrativa até mais central que a do mesmo. Olivia Colman também está fabulosa no papel de Mrs. Scrubbit, assumindo de maneira cômica e geniosa o estereótipo da vilã. Outra excelente atuação fica a cargo de Hugh Grant, que de galã das comédias românticas se torna Umpa Lumpa. Com um humor sarcástico contagiante, o homenzinho laranja, do pouco que aparece, consegue conquistar toda atenção do público.

Uma outra surpresa é a participação de Rowan Atkinson (conhecido pelo papel de Mr. Bean) no papel de Chocoholic Priest. Aqui observa-se uma perspectiva mais crítica no roteiro. O chocolate é não só um produto de satisfação, mas também atua como moeda, marcador de classes sociais, gerador de sonhos e de realizações. Ainda assim, os chocolates do Wonka fazem muito mais. Em formatos e com ingredientes totalmente inusitados, os doces possuem poderes variados que remetem à essência mística e sonhadora do filme original.

A narrativa defende que não há limites para a imaginação e a partir disso desenvolve-se uma história leve e lúdica apropriada para todos os públicos. O diretor, Paul King, também produziu Paddington 1 e 2, e define um estilo muito doce e descontraído nas suas produções. O carisma está muito associado ao tom cômico dos personagens que até certo ponto é tolerável, mas piadas bobas se esgotam em sua repetição.

Outro aspecto negativo está associado aos números musicais. Apesar de serem bem ensaiados e com uma excêntrica produção visual, as melodias são pouco cativantes. Há exceções, entretanto: as versões dos clássicos “Pure Imagination” e a canção dos Umpa Lumpas foram resgatadas com sucesso e não saem da cabeça após o filme.

De modo geral, Wonka tem um balanço positivo. Mesmo com um roteiro pouco ousado e soluções previsíveis para o desenvolvimento da trama, a sensação de conforto e deleite visual é muito presente. Como um grande sonho infantil, Wonka convida o espectador a relaxar em sua doçura abastecida com chocolate e essencialmente partilhando dessa experiência com uma boa companhia.