Songs of Leonard Cohen, lançado em Dezembro de 1967, é o álbum de estreia do cantor canadiano Leonard Cohen. Destaca-se a sua experiência como poeta e novelista nas letras das dez faixas, que se estendem ao longo de 38 minutos de folk.

Rolling Stones

Como é característico da obra de Cohen, há uma forte influência da religião, como também da natureza e da guerra, ao ponto de se referir a si mesmo como um soldado. Igualmente relevante é a mulher, presente em todas as músicas. O ambiente criado ao longo do álbum é íntimo, como se o cantor estivesse sentado à frente do ouvinte com a sua guitarra. Ao iniciar uma audição desta obra, é importante salientar que Leonard Cohen é, acima de tudo, um letrista: o seu trabalho é poesia acompanhada por música.

É Suzanne que dá início ao álbum, uma boa escolha de primeira faixa pois é extremamente representativa do resto da obra. Cohen canta como se estivesse a falar e é acompanhado por uma guitarra e um coro simples. A Suzanne retratada é Suzanne Verdal, uma mulher com quem Cohen conviveu bastante e com quem, evidentemente, bebeu chá e comeu laranjas (“And she feeds you tea and oranges”). Tanto na melodia como nos temas explorados, verifica-se a presença da religião. Enquanto Jesus é humanizado, Suzanne é glorificada, e a divindade de Jesus não consegue alcançar a de Suzanne (“our lady of the harbour”). Todas as dúvidas do narrador são eliminadas pela calma, beleza e espiritualidade estabelecida entre ele, Suzanne e a natureza, demonstrando que o conforto  onde muita gente encontra na religião, o narrador encontrou em Suzanne.

O estilo do instrumental da primeira faixa mantem-se nas próximas três faixas, mas há um aumento da musicalidade que acompanha a audição. Na quarta faixa, The Stranger Song, observam-se indícios de uma maior complexidade instrumental, com uma guitarra mais elaborada. No início é apresentada uma mulher acostumada a ser usada por diferentes homens, os quais eventualmente a trocam por uma nova viagem. Ao concluir a música, estabelece-se que a posição assumida pelos homens na vida da mulher é a posição que ela própria assume na vida dos homens, salientando como somos, habitualmente, a vítima na nossa história.

Sisters of Mercy surgiu de um momento em que Leonard Cohen abrigou duas irmãs. O cantor afirma que não foi ele que as salvou da neve, mas que foram elas que o salvaram dos seus fantasmas e pecados com a sua presença. Essa experiência foi tão transformativa que o músico espera que qualquer pessoa que se sinta perdida as encontre: “When I left they were sleeping, I hope you run into them soon / Don’t turn on the lights, you can read their address by the moon”. Originando o título da obra, as Sisters of Mercy são mulheres dedicadas a auxiliar pessoas doentes, pobres e não educadas.

A música mais animada é So Long, Marianne, com mais percurssão e um coro distinto. Como é também mencionado em The Stranger Song, o ambiente de uma relação bloqueia a criatividade do narrador, que se dedica totalmente à sua parceira, deixando-a dominar todos os seus pensamentos, algo que os irá magoar no futuro. Ultimamente, ambos são bastante importantes no percurso do outro, mas não podem estar juntos. O apoio que forneciam mantem-se, mas a sua presença pode ser também uma catalisadora de desgraça.

One of Us Cannot Be Wrong finaliza a obra e os últimos elementos ouvidos são o assobio e os gritos do cantor. Songs of Leonard Cohen destaca-se com as músicas  Suzanne; So Long, Marianne; Hey, That’s No Way to Say Goodbye. O ponto fraco do álbum é Winter Lady.

Leonard Cohen assemelha-se a um velho ancião de algum universo fantástico, que dispõe da sua sabedoria ao longo de faixas como Hey, That’s No Way to Say Goodbye e Teachers. Mesmo que as músicas tenham uma linha de temas que as guiam, o artista explora vários aspetos diferentes numa só canção e prova que tem mais a dar do que Hallelujah.